Países esperam voos mais altos com "céu único" africano
1 de fevereiro de 2018Os voos entre a capital do Níger, Niamey, e Bamako, no vizinho Mali, passam, na melhor das hipóteses, pela Costa do Marfim. Mas também pode haver escalas no Burkina Faso e no Togo. Se quiser viajar de Conacri, capital da Guiné, para Lagos, na Nigéria, é possível que tenha de fazer escalas em três cidades: Nouakchott, Paris, e Amsterdão. Istambul e Dubai também aparecem frequentemente nos itinerários em viagens transafricanas, em transportadoras como a Turkish Airlines, a Emirates ou a AirFrance.
"80% do mercado é operado por empresas não africanas", diz Wosenyeleh Hunegnaw, diretor-geral da Autoridade de Aviação Civil da Etiópia. No entanto, a tendência é que o mercado se equilibre no futuro, acrescenta o responsável em entrevista à DW.
Um novo acordo selado, esta semana, por 23 Estados africanos, durante a cúpula da União Africana em Addis Abeba, poderá ajudar a promover essa mudança. Essencialmente, o acordo prevê que as companhias aéreas dos Estados-membros tenham acesso gratuito aos aeroportos dos outros Estados-membros. Isso significaria menos burocracia e voos transafricanos mais baratos.
Fim da dependência
Até agora, o espaço aéreo africano assemelha-se a uma manta de retalhos: as ligações diretas dependem de uma série de acordos bilaterais. A estrutura atual é um legado da era colonial: muitos países independentes continuam a ter vínculos mais estreitos com as antigas potências coloniais na Europa do que com outros países no próprio continente. Mas a União Africana pretende acabar com essa dependência através da Agenda 2063 para uma "África holística, próspera e pacífica", que prevê mais uniformidade e uma infraestrutura abrangente.
O mercado único africano de transporte aéreo seria importante para impulsionar o desenvolvimento do continente, disse o Presidente ruandês e presidente da União Africana, Paul Kagame, no lançamento da iniciativa na segunda-feira (29.01), em Addis Abeba - um Acordo Africano de Livre Comércio e um documento de identidade válido em toda a União Africana seriam os próximos passos.
O Ruanda participa na nova iniciativa, tal como a África do Sul, a Nigéria e o Quénia.
Etiópia: vantagem competitiva
A redução da burocracia no espaço aéreo é discutida há décadas. Mas acordos anteriores, como o de Yamoussoukro em 1999, ficaram pelo papel. Muitos países tentaram proteger as suas empresas estatais de uma maior competição no mercado. Além disso, as receitas das taxas aeroportuárias eram um subsídio bem-vindo para os apertados erários públicos.
Este ano, na cimeira de Addis Abeba, também se questionou se o acordo não beneficiaria apenas as principais companhias aéreas africanas. Os defensores do acordo dizem que não: "As maiores operadoras podem ajudar as mais pequenas dando formação ou compartilhando experiências", afirma Wosenyeleh Hunegnaw, da Autoridade de Aviação Civil etíope.
Vários especialistas partem do princípio que há espaço para todos no espaço aéreo africano. A Ethiopian Airlines, por exemplo, expandiu a sua liderança através de acordos da Etiópia com outros Estados, segundo um estudo realizado pela consultora InterVistas para a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês). Assim, também os mercados e empresas de outros países que aderirem à iniciativa de abrir o espaço aéreo devem sair beneficiados, segundo as autoridades etíopes.
Vantagens para a população
Tewolde Gebremariam, chefe da Ethiopian Airlines, enfatizou nas negociações que as principais companhias aéreas africanas também são bastante pequenas em comparação com as grandes transportadoras internacionais e que a sua empresa não consegue oferecer voos baratos entre países, algo que para companhias aéreas europeias, como a irlandesa RyanAir, é rotina.
Gebremariam pede uma mudança de imagem: "Aqui em África, pensa-se erradamente que o avião é um meio de transporte das pessoas ricas", diz. Mas isso tem de mudar. Se as estimativas do estudo da InterVistas se comprovarem, os preços dos bilhetes deverão baixar em mais de um terço devido ao aumento da concorrência. Voar seria mais acessível. Além disso, "os passageiros poderão escolher mais voos diretos, graças a este programa", diz o ministro etíope dos Transportes, Abdisa Yadeta, em entrevista à DW. "A maior liberdade de movimento impulsionará o turismo e trará crescimento económico."
Mas ainda poderá demorar algum tempo até que isso se concretize. Muitos analistas acreditam que a pesada burocracia da União Africana pode dificultar esta reestruturação.