Vídeo pede a libertação dos ativistas em Angola
21 de julho de 2015“Nós, cidadãos independentes de Angola e do mundo, vimos por este meio apelar às autoridades angolanas para que libertem imediatamente os jovens democratas, detidos em Luanda no dia 20 de Junho de 2015, sob a acusação de tentativa de Golpe de Estado.”
“Liberdade já” é o nome do vídeo em que várias personalidades angolanas e estrangeiras pedem a libertação dos presos políticos angolanos.
Esta segunda-feira (20.07), assinala-se um mês desde a detenção dos 15 ativistas, em Luanda, acusados de prepararem um golpe de Estado e de atentarem contra a vida do Presidente, José Eduardo dos Santos. Também Marcos Mavungo, detido a 14 de março em Cabinda, ainda não foi libertado.
Os escritores Ondjaki e José Eduardo Agualusa, os músicos Aline Frazão e Paulo Flores, e os artistas Pedro Coquenão ou Kalaf Epalanga, estão entre as 25 personalidades que apelam neste vídeo à libertação imediata dos presos políticos.
José Patrocínio, coordenador da OMUNGA, uma organização não-governamental angolana, é um dos intervenientes nesta iniciativa. O ativista dos direitos humanos acredita que é urgente pressionar a comunidade internacional para que tome uma posição quanto à supressão das liberdades fundamentais em Angola.
“Nós estamos a participar por questões de cidadania. Eu sou um ativista, sou um cidadão, e estou extremamente preocupado com as questões que se passam no meu próprio país. A situação da liberdade de expressão tem vindo a agravar-se e a degradar-se dia após dia. A detenção destes jovens e os argumentos para essa mesma detenção são prova evidente de que temos que fazer alguma coisa urgentemente para impedir que pior venha a acontecer. Cada vez mais iniciativas de denúncias, de protestos e de solidariedade estão a surgir com toda esta situação. Há que pressionar a União Europeia, que tem grandes interesses e até agora não tomou qualquer posição”, defende.
“A democracia não existe”
Luís Araújo, outro ativista angolano que aderiu a esta iniciativa, acusa o Governo de ter aumentado a repressão.
“A ideia para este vídeo surgiu de um grupo de cidadãos que estão inquietos com a situação que se está a desenvolver em Angola. O Estado de Direito é uma farsa, a democracia não existe, e é uma situação em que só o ditador e o seu partido ganham eleições, e portanto os cidadãos começam a procurar gerar alternativas para mudar esse quadro.”
O ativista espera que este vídeo e outras demonstrações de solidariedade semelhantes possam ter alguma influência no destino dos detidos: “Eu estou solidário, pois que próprio já fui vítima de tentativa de assassinato em Luanda. Desejo que aquela ditadura termine o mais rápido possível, para que possamos ter democracia e um Estado de Direito, possamos entrar numa fase em que o país esteja preocupado com o desenvolvimento humano, e que se produza finalmente a harmonia social que sempre se esperou desde a luta contra o colonialismo e que não temos, nem nunca tivemos.”
Ainda não houve nenhuma resposta por parte dos responsáveis governamentais, explica Luís Araújo. “É um regime que não dialoga nem responde. Toda a sociedade angolana está inquieta. Estão todos em desacordo com a corrupção galopante com que o senhor ditador enriqueceu. Toda a gente está em desacordo com a situação calamitosa da saúde, com o desenvolvimento urbano e os imensos musseques que contrastam com os condomínios para ricos e para estrangeiros. Toda a gente está farta disso! A maioria da população está excluída do desenvolvimento.”
Luís Araújo conclui que “estamos face a um endurecimento da ditadura”, e prevê que “a prazo estaremos numa situação em que os angolanos que ousam pensar e refletir de forma diferente vão ter de se exilar e sair do país.”
Os protagonistas do vídeo “Liberdade já!” argumentam que o facto de ainda não terem sido apresentadas provas desde as detenções é motivo suficiente para libertar os ativistas.
“A maior riqueza de Angola não é o petróleo. Não são os diamantes. A maior riqueza de Angola são as pessoas. Pessoas com ideias diferentes e um desejo comum de liberdade. Os jovens presos lutam por uma Angola democrática, pacífica e socialmente mais justa”, referem. Solidarizando-se com a sua luta, acrescentam: “Nós Também”.