Pesticidas - solução controversa para a agricultura africana
O uso de venenos na agricultura é cada vez menos recorrente. Herbicidas podem atingir lençóis freáticos, contaminando a água potável, ameaçando animais e plantas. Por outro lado, podem claramente aumentar o rendimento da produção agrícola.
Uma das maiores empresas do setor químico do mundo, a alemã BASF, promete acabar com uma praga que provoca perdas de quase mil milhões de euros por ano.
Uma saca de 2,5 quilos some em uma máquina. A técnica mancha os grãos de milho com um produto de proteção em pó. Quem faz estes testes no laboratório da BASF é o cientista alemão Ulf Schlotterbeck. O objetivo é aperfeiçoar a técnica de manchar grãos. "Se o produto se perdesse, o efeito seria menor", diz Schlotterbeck. Salienta que há um esforço muito grande para oferecer segurança ao agricultor no uso do herbicida: "Se ficar em um depósito de um comerciante de sementes e não aderir à semente, pode teoricamente danificar outras sementes. Por isso que é importante que o herbicida fique verdadeiramente na semente", informa.
O inimigo do milho - a Striga
O cientista diz que ficou satisfeito com os testes realizados até aqui. Mas porque ele ainda parece empregar tanto esforço no seu laboratório no sul da Alemanha? É porque uma planta chamada Striga ainda dificulta a vida de muita gente, principalmente de agricultores em África. Trata-se de uma erva daninha que se desenvolve dentro de produções de grãos. Ela brota com uma bela flor cor-de-rosa, mas embaixo da terra ataca o milharal.
Segundo Schlotterbeck, a praga ocupa espaço e disputa água e nutrientes com o milho. "As raízes da planta de Striga vão diretamente de encontro às raízes das mudas de milho. Isso significa que a praga suga os nutrientes e a energia das raízes da planta de milho."
A praga se espalha especialmente no leste da África, afetando o ciclo das plantações de milho.
Normalmente não se usa nenhum veneno contra as ervas daninhas, então a flor cor-de-rosa é vista no milharal e nestes casos o milho já está sendo atacado. "A Striga é um problema para os agricultores que vivem na região. Pode ser que a alternativa química provoque uma colheita bem melhor para as suas pequenas propriedades", diz o pesquisador.
Longo caminho
Os testes de Schlotterbeck são apenas um passo em uma longa série de provas que devem ser feitas no trabalho do grupo alemão. Com seus parceiros e o apoio da Fundação Bill e Melinda Gates, a empresa não somente desenvolve o veneno contra a Striga, mas também desenvolve uma espécie de milho que não é afetado pelo herbicida, portanto uma espécie de milho resistente ao produto químico.
Após os testes no laboratório, nas estufas e nos campos de prova, os grãos tratados serão semeados por pequenos agricultores no Quênia, como uma primeira amostra. A seis mil quilômetros de distância do laboratório alemão, Sammy Waruingi dirige o projeto da BASF no país africano.
Ele explica que, em 2013, sementes de milho resistente à Striga serão plantadas em 16 mil hectares da região. Pequenos agricultores cultivam geralmente um ou dois hectares com sementes resistentes a erva daninha.
"A tecnologia se espalha de forma rápida. Nós organizamos os chamados "Field Days", nos quais demonstramos como o milho resistente à Striga deve ser plantado."
O coordenador do projeto explica que os agricultores revelam suas experiências. "Dizem que se plantarem o milho tratado apenas em uma parte de suas propriedades, em um quarto de hectare talvez, eles têm uma produção muito maior do que no resto da plantação", informa Waruingi.
Economia - rendimento maior
Conforme Waruingi, o milho tratado custa para os agricultores apenas 5% a mais do que as sementes convencionais. O que se verifica, porém, é que o rendimento é 50% maior do que na produção com grãos de milho convencional. Assim o investimento feito para usar a alternativa contra a praga acaba sendo coberto.
Provavelmente a venda de grãos de milho resistentes a herbicidas valha a pena para a BASF e para os agricultores que integram uma aliança com a empresa. Críticos alertam, no entanto, que agricultores têm ficado durante muitos anos dependentes de grandes empresas.
Herbicidas venenosos
Além disso, os herbicidas contra a Striga são venenosos. "Nós dizemos para os agricultores que eles devem usar luvas e lavar as mãos quando têm contato com os produtos químicos. Se estes produtos entrarem em contato com sementes de feijão, a fertilidade destes grãos pode ser afetada", alerta Waruingi.
Além de os agricultores serem orientados sobre a forma correta de ter contato com as sementes, esclarece-se como pode se evitar, de forma natural, que a Striga afete as plantas de feijão.
Novos esforços
Devido aos bons resultados no uso das sementes resistentes à praga, o projeto deve ser estendido agora para Uganda, Tanzânia, Malaui e Gana.
Ulf Schlotterbeck segue tentando aperfeiçoar a sua técnica. O desafio é fazer com que o pó seja capaz de aderir completamente ao grão de milho. É claro que outras companhias como a BASF estão pesquisando um grande número de herbicidas ao mesmo tempo.
Robô ajuda nos testes
Schlotterbeck levou a equipe da DW até seus colegas, que são responsáveis por testar a eficiência dos possíveis novos produtos químicos.
Um robô do tamanho de um automóvel faz a maior parte da tarefa de teste. Sob um estrado de madeira ele ergue as pequenas mudas até uma bancada de trabalho. Com um pequeno spray, a máquina espalha uma solução ativa e as empurra novamente para uma estante.
Uma câmera possibilita aos técnicos verificarem se as plantas estão recebendo os produtos. Todos os dias, os cientistas testam os efeitos de mais de 160 novas substâncias contra ervas daninhas e outros parasitas. Se forem aprovadas nestes testes de laboratório, algumas podem ser colocadas em atividade em campos africanos para ajudar os agricultores do continente a aumentarem suas produções.