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"Pingo-Pingo": como Cabo Verde lida com a escassez de água

Renate Krieger31 de julho de 2009

A paisagem em Cabo Verde só faz jus ao nome durante cerca de dois meses por ano. No restante do tempo, o país lida com a falta de água e de recursos para consegui-la.

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O sistema de irrigação gota a gota
O sistema de irrigação gota a gotaFoto: Renate Krieger / DW

O agricultor Domingos Monteiro vive no Norte da ilha de Santiago, a maior do arquipélago de dez ilhas da costa Oeste africana, a cerca de 600 quilômetros da capital senegalesa de Dacar. Foi cuidando das galinhas que ele diz ter encontrado uma forma de conseguir água para irrigar a roça da qual ele tira o sustento para a sua família: “A minha rede era uma rede do galinheiro e, todos os dias, eu encontrava o terreno à volta da rede molhado. Eu pensei: se a rede grossa molha o terreno, eu posso preparar uma que irá dar água para usarmos na alimentação”.

O agricultor Domingos Monteiro usa quadros com redes para peneirar as nuvens e conseguir água na Serra da Malagueta, no Norte de Santiago.
O agricultor Domingos Monteiro usa quadros com redes para peneirar as nuvens e conseguir água na Serra da Malagueta, no Norte de SantiagoFoto: Renate Krieger / DW

O Parque Natural da Serra da Malagueta, onde Domingos mora com a família, está constantemente coberto por nuvens – mas, assim como em outras partes do país, não chove por ali. A técnica de captação de água dos nevoeiros já foi testada há cerca de 20 anos em Cabo Verde. Na Serra da Malagueta, os quadros com redes são colocados de pé para peneirar as nuvens. A água condensada é coletada numa calha e canalizada para um filtro, de onde depois abastece a escola local e um reservatório comunitário do parque.

Hoje, a medida existe apenas na Serra da Malagueta, a região mais alta da ilha de Santiago. Fontes do Instituto Nacional de Gestão de Recursos Hídricos admitem que esta é uma alternativa até agora negligenciada nos esforços para combater a escassez de água no arquipélago – especialmente no setor agrícola.

Nas proximidades da barragem do Poilão, no centro da ilha cabo-verdiana de Santiago, os agricultores tentam fazer frente à escassez de água com o sistema de irrigação gota a gota.
Nas proximidades da barragem do Poilão, no centro da ilha cabo-verdiana de Santiago, os agricultores tentam fazer frente à escassez de água com o sistema de irrigação gota a gotaFoto: Renate Krieger / DW

Num país que ainda pena para se sustentar com alimentos produzidos na própria terra, a irrigação gota a gota vem transformando a agricultura tradicional. “Antes, as pessoas usavam muito a técnica do alagamento, inundando todo o terreno”, explica José Teixeira, técnico do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário, enquanto mostra as estufas onde INIDA testa técnicas como o gota a gota – ou “pingo-pingo”, como diz o próprio técnico.

E não é apenas no setor agrícola que Cabo Verde sofre – tanto as populações rurais quanto as urbanas têm dificuldade no acesso à água potável e de abastecimento. Por enquanto, o país de quase meio milhão de habitantes possui apenas uma barragem, a do Poilão, no centro de Santiago. Para evitar a perda de água das chuvas, Cabo Verde também tenta combater a salinização – uma tarefa nada fácil, nem barata, num país onde a demanda por água pela população e pelos turistas vem aumentando de forma expressiva nos últimos anos.

O Poilão é a única barragem de Cabo Verde, no centro de Santiago, a maior ilha do arquipélago.
O Poilão é a única barragem de Cabo Verde, no centro de Santiago, a maior ilha do arquipélagoFoto: Renate Krieger / DW

Acompanhe a viagem das jornalistas Renate Krieger, da Deutsche Welle, e Verónica Oliveira, da Rádio Praia FM de Cabo Verde, por uma ilha onde uma das cenas mais comuns é ver pessoas carregando galões d’água por quilômetros a fio de vales e montanhas.