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Luanda: Pobreza extrema "vai além da estatística" do Governo

Lusa
4 de outubro de 2022

O problema da pobreza extrema em Angola "vai além da realidade estatística" apresentada pelas autoridades, revela um estudo sobre a execução do programa governamental de combate à pobreza.

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Angola Namibe | Hungernde Menschen
Foto: Adílson Liapupula/DW

O estudo elaborado e apresentado esta terça-feira (04.10), em Luanda, pela Associação de Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), analisou a execução do Programa de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (Pidlcp) nos municípios de Cacuso, província de Malanje, do Bailundo, província do Huambo, e da Ganda, província de Benguela.

A pesquisa, a que agência Lusa teve acesso, conclui que "o problema da pobreza extrema é ainda mais forte" do que se imagina, "uma vez que vai além da realidade estatística frequentemente apresentada pelo INE [Instituto Nacional de Estatística]".

"Os angolanos, em particular os que vivem em áreas mais recônditas, sentem a pobreza e sentem-na numa proporção asfixiante", refere-se no estudo.

De acordo com o documento, os inquiridos consideram preocupante a intensidade da pobreza.

Dürre im Süden Angola
"Os angolanos, em particular os que vivem em áreas mais recônditas, sentem a pobreza numa proporção asfixiante", diz estudoFoto: Adilson Abel/DW

Plano de combate à pobreza sem impacto?

"Mais de metade diz que o Pidlcp não impactou a sua vida e não resolveu a situação mais urgente das comunidades, que são a fome, saúde, energia, água, mobilidade e educação”, adianta-se no estudo.

O inquérito conclui que o Pidlcp "foi ineficaz na promoção da educação e também na melhoria da qualidade dos serviços de saúde”, recomendando o aumento da verba para a merenda escolar e distribuição regular para dirimir o problema da desistência escolar.

Relativamente à saúde, a recomendação vai no sentido de se construir um hospital de médio porte em cada comuna, com acesso a ambulância e uma logística que supra as necessidades dos cidadãos.

No que toca à fome e aos níveis de desnutrição crónica registados, devido à depressão da atividade agrícola, tendo como efeitos o êxodo rural das famílias à procura de outras áreas agricultáveis, os inquiridos pretendem que o Governo invista na agricultura e os ajude a cultivar.

Em declarações à imprensa, à margem da apresentação do estudo, o diretor da Unidade de Projetos e Desenvolvimento da ADRA, organização que realizou o estudo no âmbito da implementação do seu plano estratégico 2018-2022, de monitorização às contas públicas, referiu que a pesquisa teve como objetivo central analisar "até que ponto é que este programa está a contribuir para a erradicação da pobreza nas zonas rurais”.

"O que nós constatamos é o seguinte: o programa ainda tem enormes desafios. As comunidades, na sua maioria, dos 187 inqueridos, dizem que o programa não resolveu os problemas concretos que concorrem na sua maioria para a qualidade de vida”, realçou Abílio Sanjaia.

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Crianças nas lixeiras à procura de comida no Bengo (arquivo)Foto: António Ambrósio/DW

Mais envolvimento das comunidades

Segundo o representante da ADRA, as comunidades apresentaram como principais preocupações a melhoria de serviços básicos, tendo-se constatado que o programa "contribuiu muito pouco para atender às necessidades que eles colocaram”.

O responsável destacou também a necessidade de se assegurar o envolvimento das comunidades em todas as fases do planeamento das ações, todavia, "o que se constatou é que ainda é um desafio".

Abílio Sanjaia realçou que uma diretiva do Governo, com o apoio técnico do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), obriga que as administrações municipais consultem as comunidades para a elaboração orçamental, ação que conta igualmente com o apoio de organizações da sociedade civil.

"A ADRA foi uma delas, desencadeámos esse processo, ajudámos metodologicamente à recolha das principais prioridades em cada comuna, em sede da elaboração do orçamento, pensamos que este é o caminho, porque os municípios recebem mensalmente 25 milhões de kwanzas (53.376 euros), que anualmente totaliza os 300 milhões de kwanzas (640.521 euros). As necessidades são ilimitadas, mas os recursos são limitados, então é importante que este dinheiro que é disponibilizado responda, atenda, às principais prioridades das comunidades”, vincou.

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