Polícia alemã diz ter impedido ataque armado ao parlamento
7 de dezembro de 2022A Procuradoria-geral da Alemanha anunciou esta quarta-feira (07.12) ter desmantelado uma célula de um grupo de extrema-direita que planeava ataques armados, incluindo contra o parlamento, numa operação que levou à detenção de 25 pessoas.
Os procuradores disseram, em comunicado, que os detidos são suspeitos "de terem feito preparativos concretos para entrarem violentamente, com um pequeno grupo armado, no Bundestag", a câmara baixa do parlamento alemão.
Cerca de três mil agentes participaram na operação policial, que incluiu buscas em 130 locais em 11 dos 16 estados da Alemanha, contra o movimento Cidadãos do Reich. A imprensa refere que se trata da maior operação policial deste tipo no país.
Detenções e buscas
A Procuradoria-geral da Alemanha disse que 22 alemães foram detidos sob suspeita de "filiação numa organização terrorista". Três outras pessoas, incluindo um russo, são suspeitas de apoiar a organização. Uma pessoa foi detida na cidade austríaca de Kitzbuehel e outra na cidade italiana de Perugia, referiu ainda o comunicado.
Por outro lado, fontes judiciais alemãs indicam que 27 outras pessoas são procuradas por envolvimento na "célula criminosa".
De acordo com o jornal alemão Der Spiegel, as buscas incluíram o quartel da KSK, a unidade de forças especiais da Alemanha, na cidade de Calw, no sudoeste do país.
A KSK já tinha sido alvo de investigação no passado devido a alegadamente ter entre os soldados simpatizantes da extrema-direita.
Segundo um comunicado da Procuradoria em Karlsruhe, o grupo alemão que estava a ser investigado pelas autoridades foi fundado em 2021 e tinha como objetivo atingir as instituições e fundar uma "forma própria de Estado", imposto através de meios militares e violentos contra os representantes constitucionais.
Para a Procuradoria, os membros do grupo "estão unidos por uma profunda rejeição contra as instituições do Estado e contra a ordem democrática da República Federal da Alemanha".
Na primavera passada foi desmantelada uma outra organização de extrema-direita suspeita de preparar atentados em todo o país e que tinha como alvo principal o ministro da Saúde por causa das medidas restritivas impostas contra a propagação da pandemia de Covid-19.
"Cidadãos do Reich"
Entre outros aspetos, os elementos dos vários movimentos autoproclamam-se "cidadãos do Reich", não reconhecem as instituições, não obedecem às forças policiais, não pagam impostos e possuem matrículas próprias nos veículos que conduzem.
As autoridades estimam que cerca de 20 mil pessoas estão envolvidas em movimentos radicais de extrema-direita na Alemanha.
O grupúsculo desmantelado hoje, segundo fontes judiciais, é inspirado nas teorias do movimento QAnon, organização conspirativa de extrema-direita dos Estados Unidos.
Rússia nega envolvimento
A embaixada de Moscovo em Berlim disse não ter qualquer relação com organizações "terroristas" na Alemanha, poucas horas depois do anúncio da neutralização de um grupúsculo que supostamente preparava perturbar instituições alemãs.
"As representações diplomáticas e consulares russas na Alemanha não mantêm qualquer tipo de contactos com representantes de grupos terroristas ou formações ilegais", indicou a embaixada de Moscovo em Berlim citada pelas agências russas Ria Novosti e Tass.
Os membros do grupo neutralizado autointitulam-se "Estado Profundo" que conta com a "intervenção iminente da sociedade secreta 'Aliança', tecnicamente superior e que conta com membros dos serviços informações, militares e funcionários governamentais de outros países, nomeadamente da Federação da Rússia e dos Estados Unidos".
A investigação relacionou pelo menos um membro do grupo tentou contactar "representantes da Federação da Rússia".
Contudo, de acordo com as investigações realizadas até à data, não há indícios de que estes interlocutores tenham reagido positivamente ao pedido.
A justiça alemã refere também que se trata de uma organização muito bem estruturada composta por um "órgão central" e um "braço militar" encarregado de adquirir equipamento e treinar recrutas, assim como dispõe de uma comissão de "Justiça", "Negócios Estrangeiros" e "Saúde".
No passado mês de outubro, membros do "braço militar" de um grupo de extrema-direira foram sinalizados nas casernas do Exército alemão (Bundeswehr) durante missões de recrutamento de elementos dispostos a envolver-se "num golpe de Estado".