Polícia angolana impede marcha pela impugnação das eleições
17 de agosto de 2022Laurinda Gouveia, uma das promotoras da marcha, diz que "mais de 15 ativistas" foram detidos, incluindo um dos subscritores de um manifesto que as organizações da sociedade civil entregaram esta quarta-feira (17.08) na Comissão Nacional Eleitoral (CNE) denunciando várias irregularidades no processo eleitoral.
"Prenderam os nossos companheiros, tão logo as pessoas passavam pelo cemitério de Santa Ana estavam a ser revistadas, não poderiam avançar, todos os jovens."
Explicou também que a marcha não chegou a acontecer porque os ativistas "que já sabem do comportamento da polícia" optaram por dividir-se em grupos, alguns dos quais permaneceram no cemitério e outros encaminharam-se para a CNE, que seria o ponto de chegada da marcha, para entregar o manifesto.
"Infelizmente foram reprimidos, foram espancados, não sabemos onde eles estão, mas nós viemos trazer a nossa documentação à CNE", salientou, à saída da antiga sede do órgão, embora admita a desconfiança face às instituições, "porque estão ao serviço do partido do poder".
O manifesto, entretanto entregue, aponta uma série de violações à lei e irregularidades, entre as quais a contratação da empresa espanhola Indra para gerir o processo eleitoral, a constituição da CNE, composta maioritariamente, por membros do partido no poder, instrumentalização dos meios de comunicação social públicos e forças de seguranças, e nomes de pessoas mortas nos cadernos eleitorais.
"Não acreditamos nas instituições angolanas devido à corrupção em que estão envolvidas", afirmou Laurinda Gouveia.
A ativista diz que o seu grupo prepara uma nova marcha nos próximos dias para apresentar a sua insatisfação face ao andamento do processo eleitoral angolano.
Jornalista detido
Em declarações à agência Lusa, o jornalista Coque Mukuta afirmou que se encontrava a filmar junto ao cemitério de Santa Ana, local onde iria ter lugar a concentração, quando foi abordado pela polícia, cerca das 09:30 locais. Mesmo após se ter identificado como jornalista e ter mostrado a carteira profissional, Mukuta foi obrigado a entrar numa carrinha policial e a entregar os seus passes de serviço, bem como o telemóvel, à polícia.
"Estava a captar imagens do local onde não havia propriamente uma manifestação, apenas algumas pessoas espalhadas. A polícia interpelou-me e disse que eu não tinha de fazer filmagens ali, porque não tinha autorização", relatou.
Segundo Coque Mukuta, a carrinha dirigiu-se inicialmente para uma esquadra, mas acabou por regressar ao cemitério de Santa Ana onde o jornalista foi libertado, após passar algumas horas detido.
A polícia ainda não se pronunciou sobre a detenção dos ativistas e do jornalista.
Artigo atualizado às 22:22 (CET) de 17 de agosto de 2022.