Polícia reforça vigilância sobre ex-combatentes da Renamo
1 de março de 2012A Polícia da República de Moçambique (PRM), subordinada ao governo liderado pelo partido Frelimo, reforçou o contingente junto à sede do maior partido oposicionista do país, a Renamo, em Nampula (norte). Desde dezembro de 2011, há centenas de antigos combatentes da formação partidária na sede da Renamo, principal adversário da Frelimo durante a guerra civil moçambicana (1976-1992).
Segundo informações avançadas pela agência noticiosa Lusa, que citou entrevista de um responsável da PRM à Voz da América, o policiamento foi reforçado porque as autoridades de segurança estariam tentando resgatar um homem supostamente sequestrado há 20 dias pelos ex-guerrilheiros.
De acordo com a Lusa, o porta-voz provincial da polícia, Inácio Dina, confirmou também a detenção de Emane Puantão, de 46 anos, por homens da Renamo, e disse que a polícia irá usar de todos os meios para libertá-lo. O partido desmentiu a detenção. A Renamo também desmentiu à Lusa ter feito refém o homem supostamente sequestrado.
Aquartelados
Os ex-guerrilheiros da Renamo estão aquartelados desde dezembro de 2011 na sede do partido, na Rua dos Sem Medo, no bairro de Muatala. Foram convocados pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que mora em Nampula. Segundo a agência Lusa, o objetivo é informar os ex-combatentes sobre a preparação de manifestações nacionais, anunciadas para "correr com a [formação partidária governista] Frelimo do poder".
As manifestações ainda não se realizaram e sua data deverá ser discutida em Nampula a partir da próxima segunda-feira (05.03), durante encontro do Conselho Nacional da Renamo, segundo disse o porta-voz do partido, Fernando Mazanga, à Lusa.
Interesses políticos
O cenário em Nampula não esconde a tensão que vem tomando conta da região. Segundo a DW África apurou, na Rua dos Sem Medo, circula-se com medo. De um lado, cerca de 200 antigos guerrilheiros da Renamo. Vinte deles estão armados. À sua volta, as Forças Especiais da Polícia Moçambicana.
O analista moçambicano Ericino de Salema acredita que estão em jogo interesses políticos. Na opinião dele, "em parte, a própria Frelimo [partido no poder] tem culpa [desta situação] porque interessa à Frelimo que a Renamo mantenha os homens armados". Ele acredita que, em épocas eleitorais, a situação pode ser usada um discurso político, expondo a Renamo como um partido "beligerante e ainda armado", explica Salema.
Já o analista Gustavao Mavie não acredita que a situação possa interessar à Frelimo, mas "pode ser que beneficie a Frelimo por culpa da própria Renamo. Aliás, a Renamo, na minha opinião, sempre se desgastou a si própria desde os tempos que fez a Guerra dos 16 anos porque foi uma guerra direcionada quase que unicamente para a população civil." Mas Mavie ressalta que voltar a exigir o belicismo em vésperas de eleições é um "tiro no próprio pé".
Preservação da paz
Recentemente, o presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, estiveram reunidos para discutir a preservação da paz.
Para Ericino de Salema, não faz sentido haver ainda partidos armados no país, passados 20 anos da assinatura do acordo de paz. Salema se mostra preocupado e diz que já está em tempo de procurar urgentemente uma solução para esta situação.
Autor: Ezequiel Mavota (Maputo) / Lusa
Edição: Bettina Riffel / Renate Krieger