Políticos têm de dar mais atenção aos pobres
17 de outubro de 2016As dificuldades em Angola são imensas, diz o presidente da Cáritas nacional, Estanislau Marques, a propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinala esta segunda-feira (17.10).
No país, há 13 milhões de domicílios pobres, segundo o Banco Mundial. Angola aparece em 13º lugar na lista dos cinquenta países com as taxas mais preocupantes no Índice Global da Fome de 2016.
Por isso, segundo Marques, há muito trabalho a fazer. A Cáritas angolana está empenhada em garantir a autosustentabilidade das comunidades mais pobres, de norte a sul do país, "com pequenos programas - desde microcréditos para associações até ao acompanhamento de pessoas com HIV. Também há programas de agricultura para a subsistência, projetos de poços, sobretudo nas áreas onde há seca."
"É o mínimo o que se pode fazer", afirma o bispo.
Crise económica afeta os mais pobres em Angola
Mas, para erradicar a pobreza no país, é preciso que os políticos dêem "maior atenção aos mais pobres", sublinha Marques.
A crise económica que Angola enfrenta devido à quebra global do preço do petróleo, a maior fonte de receitas do país, agravou a situação das comunidades que já passavam dificuldades, segundo o presidente da Cáritas angolana. A Igreja Católica pede ao Governo angolano políticas públicas mais justas para quem vive na pobreza.
"Continuamos a perceber e a sentir na nossa sociedade as consequências da crise financeira, com a baixa do poder de compra das famílias, e exortamos a quantos têm responsabilidade nesta matéria que se tornem as medidas políticas mais justas de modo a que às pessoas menos protegidas não lhes faltem a proteção e o apoio da sociedade", disse o arcebispo de Luanda, Filomeno Vieira Dias, durante um discurso na segunda plenária ordinária da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), na semana passada.
Pobreza extrema em Moçambique
Um relatório divulgado no início de outubro pelo Banco Mundial coloca Moçambique entre os dez países do mundo com maior proporção de pobreza e com maior número de pobres. Segundo o documento, o país tem pelo menos 15 milhões de pessoas a viver em pobreza extrema, o equivalente a quase 60% da população moçambicana. No Índice Global da Fome de 2016 Moçambique também aparece na lista das 50 nações com as piores taxas, na 15ª posição.
O país carece de programas que incentivem atividades básicas como a pesca e a agricultura, afirma o representante da Liga das Organizações Não-Governamentais de Moçambique, Manuel do Rosário.
"Sabemos que grande parte da comunidade é pobre e vive basicamente da prática da agricultura e, em algumas zonas, da pesca. E não há programas que impulsionem estas atividades."
De acordo com Manuel do Rosário, esses programas "são substituídos pela dinâmica capitalista", que é "dominada pela exploração de recursos naturais, focalizados na exploração do gás e petróleo, entre outras fontes, que geram dinheiro mas não beneficiam necessariamente as comunidades locais."
Conflito político-militar prejudica desenvolvimento
Além disso, Manuel do Rosário aponta o conflito político-militar vivido nos últimos anos como outro obstáculo ao desenvolvimento em Moçambique.
Os confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas e homens armados do maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) "desencorajam o investimento, a mobilidade humana, a transação de bens e os serviços. Grande parte das pequenas e médias empresas em diversas províncias estão a quebrar por conta não só do problema da dívida pública, mas também por causa da instabilidade político-militar. Não dá garantias para investimentos privados, públicos ou qualquer outra parceria para o desenvolvimento."
O representante da Liga das ONG em Moçambique sublinha que a questão da pobreza não pode ser dissociada da soberania do Estado. Segundo Manuel do Rosário, "o respeito das leis, da Constituição da República e a questão da inclusão são elementos fundamentais para as estretégias de desenvolvimento do país."