Rede Angola encerra as atividades
1 de junho de 2017O encerramento das atividades jornalísticas do Rede Angola foi anunciado por meio de uma carta publicada pelo criador e diretor-geral daquele meio de comunicação social, o brasileiro Sérgio Guerra, na própria página do veículo digital.
Alexandre Neto Solombe, presidente do Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA), lamenta o encerramento do órgão, considerado independente no cenário mediático angolano.
"Angola já não estava numa situação de equilíbrio e bom jornalismo é esse que o Rede Angola fazia, porque é efetivamente um jornalismo que servia a quase todos os atores: os institucionais, os privados, os político-partidários. Havia muito equilíbrio e era de um modo geral muito aceite aqui na nossa praça," avalia.
Também Teixeira Cândido, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), se diz pesaroso com o fim do site na internet, mas recorda que vários outros média privados de seu país estão a enfrentar situação semelhante.
"Conhecendo as dificuldades que vivem muitos órgãos de comunicação privados, entendíamos que mais tarde ou mais cedo este poderia ser o desfecho, infelizmente, do Rede Angola," descreve Cândido.
"O Rede Angola é um dos órgãos que encerrou, mas encerraram outros que também – encurralados pelas dificuldades financeiras – tiveram que ser vendidos. Estamos aqui a falar do Semanário Angolense, do semanário A Capital, do Agora, da Rádio Ecclésia - que vive dificuldades enormes - e da própria [Rádio] Despertar - que não tem publicidade. É muito complicado fazer jornalismo em Angola," relata o secretário-geral do SJA.
Dificuldades financeiras
Na carta em que apresenta os motivos do encerramento do Rede Angola, Sérgio Guerra aponta as dificuldades financeiras como o motivo do fim das atividades. Guerra escreve: "chegamos a um momento em que a equação dos nossos compromissos e das dificuldades materiais que nos foram impostas ficou difícil de encontrar um saldo minimamente favorável ou sustentável".
"Para nós e para o sindicato, estamos a entender que o Sérgio Guerra está a encerrar o Rede Angola por dificuldades financeiras, uma vez que não tem tido publicidade. Não estamos a discordar que haja questões políticas, porque sabemos que alguns jornais que encerraram foram também vítimas da pressão política. Será essa mesma estratégia que tenha seguido? As questões que colocamos são perguntas mais que respostas, porque fomos também surpreendidos. Sabíamos que havia dificuldades financeiras, mas que fosse encerrar tão cedo e retornar dentro de algum tempo, não tínhamos esse sinal," avalia Teixeira Cândido.
Ao comentar as dificuldades financeiras pelas quais passava o Rede Angola, o presidente do MISA, lembra o incentivo financeiro previsto na Lei de Imprensa.
"Um projeto como o Rede Angola, que tem quase um milhão de visualizações por dia, deveria se beneficiar dos incentivos à comunicação social. O artigo 15 [da Lei de Imprensa] prevê esses incentivos. Só que nós temos uma legislação muito bonita, mas que nunca é implementada. Há aí publicações que vão falir também. Que hoje aparentemente estão bem, mas que não vão se aguentar por muito mais tempo," salienta Solombe.
Suspensão temporária?
Na carta, Sérgio Guerra, escreve ainda que “este não é o fim do Rede Angola”. Solombe diz esperar pelo retorno do site, mas considera possível que este seja reativado com um outro perfil.
"O Rede Angola conquistou um aviamento comercial, tem um valor no mercado e esta possibilidade não é de descartar: que regresse, mas vendido a uma outra pessoa. Aí poderemos verificar se efetivamente o proprietário passou a ser outro, em função do que a linha editorial eventualmente também se alterou," alerta o presidente do MISA.
Para o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, Teixeira Cândido, o encerramento do Rede Angola terá algum impacto sobre as campanhas para as eleições gerais, previstas para o dia 23 de agosto em Angola.
"Significa que deixamos de contar com um espaço - mais do que jornalistas, a sociedade de um modo geral – para de maneira equilibrada olhar para os programas de todos os partido políticos com alguma distância. Porque, os órgãos públicos de comunicação, não têm sido equilibrados o suficiente. Têm sido parciais nessa perspectiva, o que impede que a sociedade consiga ter uma elação correta dos pontos de vista e das perspetivas de cada um dos partidos políticos," finaliza.