Presidenciais no Chade têm resultados previsíveis
25 de abril de 2011Com as eleições parlamentares de fevereiro deste ano já tinha acontecido: o partido de Idriss Déby, Presidente do Chade, ganhou por grande maioria. Os eleitores parecem resignados e não fazem críticas. Uma das raras e corajosas exceções é a advogada Jacqueline Moudeina, Presidente de uma organização chadiana de defesa dos direitos humanos, que considera que o Chade não tem hipóteses de assistir a uma mudança dos seus dirigentes políticos, “algo normal e necessário numa democracia”. Moudeina afirma com segurança que "não vai haver mudança, Déby vai ser re-eleito.”
Idriss Déby, um antigo rebelde, liderou um golpe de Estado em dezembro de 1990 e desde então governa o Chade com mão de ferro. É verdade que existem cerca de 100 partidos da oposição. Mas muitos deles são meros grupos dissidentes do partido no Governo. Os outros têm pouca influência.
O silêncio da comunidade internacional
Alguns terão ficado desapontados com o facto de três dos cinco candidatos da oposição terem desistido e convidado os eleitores a boicotarem as eleições. Mas para a politóloga Helga Dickow do Instituto Arnold Berstraesser de Friburgo, a sua intenção foi outra:“Com o apelo a um boicote, eles conseguem mais atenção e dizem à opinião pública internacional: vejam, este regime não tem legitimidade democrática”.
Já em 2006 houve um boicote eleitoral. Com ele, a oposição protestou contra o facto de Déby ter mandado alterar a constituição para poder candidatar-se pela terceira vez ao cargo de Chefe de Estado, o que anteriormente era proibido. Do estrangeiro, pelo contrário, não vieram protestos apesar de ser um ditador que abusa do poder e oprime os seus compatriotas – talvez por ter conseguido evitar uma guerra com o vizinho Sudão, assinando com ele um tratado de paz.
Interesses económicos falam mais alto
Déby é apoiado pela França, a antiga potência colonial, que tem interesses económicos no Chade. Na altura da tentativa de golpe de Estado em 2008, que o pretendia derrubar, a França acorreu para o defender. Os chadianos não podem, por isso, esperar uma intervenção ou mesmo só uma tomada de posição do ocidente, afirma Helga Dickow: "A política europeia em relação a África orienta-se pelas posições adotadas pela França. Déby será novamente apoiado”.
Para o ocidente, o Chade é um bastião contra o Sudão e a influência chinesa nele. Além disso, é um dos países que poderá dar asilo político ao ditador Mouammar Kadhafi, contribuindo assim para a paz na Líbia. Tudo isso reforça a posição de Déby. A única ameaça poderá vir dos que lhe são mais próximos, diz ainda Dickow, que considera Déby politicamente e militarmente forte. A politóloga finaliza: "O maior perigo seria uma eventual revolução de palácio, feita por alguém que lhe seja próximo”.
Autor: Carlos Martins/Nádia Issufo
Revisão: Marta Barroso