Presidente alemão procura soluções africanas na Gâmbia
15 de dezembro de 2017Depois do Gana, a visita do chefe de Estado alemão ao continente africano terminou na Gâmbia. Mas por muito que o Presidente Frank-Walter Steinemeier tenha enfatizado a democracia e o desenvolvimento económico durante a viagem de quatro dias, a questão da migração esteve sempre presente.
O próprio chefe de Estado da Gâmbia requereu asilo: quando tinha 22 anos, em 1988, Adama Barrow partiu para a Alemanha em busca de uma vida melhor e viu o seu pedido de asilo recusado.
O regresso à Gâmbia pareceu, na altura, o fim do mundo, contou o Presidente esta quinta-feira (14.12) num centro de formação na capital, Banjul.
Mas aos jovens que ouviram o discurso, Barrow assinalou que é importante não desistir. "Vi a Gâmbia como a minha Alemanha, a minha América, a minha Europa. Se tiverem essa determinação, podem ter sucesso no vosso país. O céu é o limite", afirmou.
"Contra a migração ilegal"
Para Mustafa Sallah, um jovem de 26 anos que também tentou atravessar o Mediterrâneo rumo à Alemanha, o Presidente é um símbolo vivo de um regresso bem-sucedido.
Sallah foi detido em Trípoli, na Líbia e, hoje, não teria deixado a Gâmbia: "Nós somos as melhores ferramentas, porque fomos lá e passámos pela experiência. Se falarmos, os outros vão ouvir-nos. Se alguém me tivesse contado tudo sobre a viagem, não teria arriscado a vida."
Juntamente com outros repatriados, Sallah fundou a associação "Juventude contra a Migração Ilegal". Tal como 70% dos jovens do país, não tem um salário oficial. Por isso, muitos continuam a tentar a sorte lá fora. Só este ano, mais de 8.000 gambianos - numa população de dois milhões - deixaram a Gâmbia rumo à Europa.
O pequeno país africano espera pelas iniciativas do novo Governo, eleito no início do ano, nomeadamente o "Plano Nacional de Desenvolvimento", que deverá ter o apoio da União Europeia numa conferência de doadores marcada para janeiro.
Em Banjul, o Presidente alemão frisou que as soluções devem partir de África e não da Europa.
"Não acreditamos, como europeus, que possuímos todas as respostas aos desafios africanos. Penso que só as soluções africanas podem fazer avançar o continente", sublinhou Steinmeier, aproveitando também para elogiar a transição democrática no país que, durante 22 anos, foi governado com mão-de-ferro por Yahya Jammeh.
Nas ruas da capital gambiana, a visita de Steinmeier, o primeiro Presidente alemão a visitar a Gâmbia, é considerada "histórica". Os gambianos têm muitas expetativas quanto à relação entre os dois países.
"Estou muito impressionado na visita da Alemanha. É um passo certo na direção certa. Precisamos de ajuda em várias áreas", afirmou um residente, Sani Muchawa. "Precisamos que invistam no nosso país para termos mais empregos", notou o taxista Modu Jalloh.
As expetativas são altas também na delegação alemã que viajou com o Presidente, ao todo 18 empresários. Os investidores vêem oportunidades na Gâmbia, especialmente no setor da energia. No final da visita, grupos de trabalho já debatem possíveis cooperações, com o envolvimento dos dois governos.