Presidente alemão pede "mais cooperação" contra a Covid-19
8 de maio de 202075 anos após o fim da II Guerra Mundial, o mundo enfrenta outro conflito global. A guerra é pandémica e é "o maior desafio" desde 1945, segundo a chanceler alemã Angela Merkel.
Para assinalar a data, o presidente da Alemanha Frank-Walter Steinmeier, a chanceler Angela Merkel e os líderes do Parlamento federal e do Tribunal Constitucional colocaram, esta sexta-feira (08.05), coroas de flores no memorial às vítimas de guerra e da tirania em Berlim.
"A pandemia do coronavírus obriga-nos a comemorar sozinhos, longe daqueles que são importantes para nós e a quem somos gratos", disse Steinmeier. O Presidente instou os alemães a "pensar, sentir e agir como europeus" e apelou à cooperação global para derrotar o coronavírus.
"Para nós, alemães, 'nunca mais' significa 'nunca mais sozinho'. Se não mantivermos a Europa unida, inclusive durante e depois desta pandemia, não estaremos a honrar o 8 de maio." Steinmeier acrescentou ainda: "Queremos mais, não menos cooperação no mundo - também na luta contra a pandemia."
Trump acusa China de fabricar vírus
Este apelo à união surge na semana em que reacendeu a guerra de palavras entre os Estados Unidos - atualmente o país mais afetado pela Covid-19, com mais de 75 mil mortos - e a China, onde a epidemia começou.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, descreveu a pandemia da Covid-19 como "o pior ataque que já tivemos", "pior que Pearl Harbor, pior que o World Trade Center", referindo-se ao ataque das Torres Gémeas em Nova Iorque a 11 de setembro de 2001.
Trump acusou a China de não ter impedido a propagação do surto. Sugeriu ainda que o vírus pode ter escapado de um laboratório da cidade de Wuhan, onde o surto começou, e ameaçou Pequim com "taxas alfandegárias punitivas".
Na quarta-feira (06.05), o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo reforçou esta acusação. "Não temos certeza, mas há evidências significativas de que isso veio do laboratório. Essas afirmações podem ser verdadeiras", afirmou aos jornalistas.
Pequim nega as alegações. "Pedimos aos EUA que parem de transferir a culpa para a China e se foquem nos factos", replicou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, numa conferência de imprensa na quinta-feira (07.05).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) qualificou as acusações como "especulativas", já que não foram apresentadas provas. Segundo a maioria dos investigadores, o coronavírus foi transmitido aos seres humanos por um animal.
Alemanha duvida de Trump
O Ministério da Defesa da Alemanha e os serviços secretos alemães (BND) também levantaram dúvidas sobre as alegações americanas da origem do coronavírus, avançou esta sexta-feira (08.05) o jornal alemão Der Spiegel.
Num memorando interno para a ministra da Defesa Annegret Kramp-Karrenbauer, as alegações americanas são qualificadas como uma "tentativa calculada" do Presidente Donald Trump de "desviar a atenção dos seus próprios erros e redirecionar a raiva americana para a China".
Um porta-voz do Ministério da Defesa recusou confirmar a existência do memorando quando contactado pela agência France-Presse.
China minimizou alcance do vírus?
A emissora pública alemã NDR questionou ainda a existência de um relatório conjunto da "Five Eyes", a aliança de cooperação entre os serviços de informação da Grã-Bretanha, EUA, Austrália, Canadá e Nova Zelândia. O alegado relatório acusava supostamente a China de minimizar a extensão do surto de vírus.
Chefes da BND terão dito numa audiência confidencial do comité parlamentar que os seus parceiros da "Five Eyes" alegavam não ter "conhecimento" de tal relatório, escreveu a NDR.
O escritório da chanceler Angela Merkel, responsável pela supervisão do BND, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
China pressionou OMS?
Segundo o jornal alemão Der Spiegel desta sexta-feira (08.05), o serviço de informações alemão criticou a China de pressionar a OMS para adiar os alertas sobre o coronavírus. "Segundo a opinião do BND, a política de comunicação da China fez perder entre quatro e seis semanas de luta contra o vírus."
"Numa chamada telefónica a 21 de janeiro, o Presidente chinês Xi Jinping pediu ao chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que retivesse informações sobre a transmissão de pessoa para pessoa e adiasse um alerta de pandemia", escreveu o semanário no seu site.
A China disse, esta sexta-feira, que apoiaria uma revisão da resposta global ao surto liderada pela Organização Mundial da Saúde, embora só "depois de a pandemia terminar".