Presidente da Turquia trava migrantes no Mar Egeu
7 de março de 2020"Por ordem do Presidente (...) nenhuma autorização será dada aos migrantes para atravessar o Mar Egeu por causa dos perigos que isso implica", pode ler-se na publicação na rede social Twitter feita pela guarda costeira da Turquia.
O Mar Egeu estende-se da Grécia até à Turquia e é umas das rotas de migração mais utilizadas. As passagens da Turquia para Lesbos, na Grécia, aumentaram nas últimas semanas, depois de Ancara ter declarado que não iria impedir os migrantes e refugiados de tentarem chegar à União Europeia (UE). A Grécia acusa a Turquia de usar os migrantes e refugiados como peões num jogo político, enquanto Ancara denuncia a brutalidade de Atenas contra as pessoas que tentam chegar à Europa de barco.
De acordo com a publicação da guarda costeira turca, este sábado (07.03), a "abordagem de não intervir para impedir que os migrantes deixem a Turquia continua válida, exceto pelas vias marítimas, devido aos perigos" que a travessia representa.
A guarda costeira referiu também que salvou 97 migrantes em perigo na quinta-feira e acusou as autoridades gregas de "esvaziarem três embarcações, deixando-as à deriva, meias afundadas".
Gás lacrimogéneo na fronteira
Este sábado, as autoridades gregas lançaram gás lacrimogéneo contra migrantes que tentavam derrubar uma cerca para atravessar a fronteira entre a Turquia e a Grécia, enquanto outros atiravam pedras à polícia, causando pelo menos dois feridos.
Segundo a agência de notícias Associated Press (AP), pelo menos dois migrantes ficaram feridos no confronto com a polícia grega, depois de os agentes terem respondido com gás lacrimogéneo a uma tentativa de um grupo de jovens migrantes de derrubar uma cerca na fronteira entre a cidade turca de Edirne e a aldeia grega de Kastanies.
De acordo com a AP, um funcionário do Governo grego disse que os canhões de gás lacrimogéneo e de água foram usados para "fins de dissuasão". As autoridades gregas disseram que frustraram mais de 38.000 tentativas de travessia de fronteira na semana passada e prenderam 268 pessoas, apenas 4% delas sírias. Já este sábado, foram relatadas pelas autoridades gregas mais 27 prisões, a maioria imigrantes provenientes do Afeganistão e do Paquistão.
A Grécia descreveu a situação como uma ameaça à sua segurança nacional e suspendeu os pedidos de asilo por um mês, dizendo que deportaria os recém-chegados sem proceder ao seu registo. Vários migrantes relataram que foram espancados por autoridades gregas quando enterram no país, e que foram forçados a regressar à Turquia.
Erdogan em Bruxelas
O Presidente turco vai estar na próxima semana em Bruxelas, anunciou o seu gabinete numa altura de tensão entre a Turquia e a União Europeia por causa dos migrantes e refugiados. O comunicado divulgado pelo gabinete de Erdogan refere apenas que o Presidente chegará a Bruxelas na segunda-feira, não especificando onde estará durante a visita de dia e meio nem a natureza do trabalho que o leva à capital belga, onde se situa a sede da UE.
Nos últimos dias, a tensão entre Ancara e Bruxelas aumentou após a Turquia ter anunciado a abertura de fronteiras para deixar passar migrantes e refugiados para a UE, ameaçando falhar os compromissos assumidos com a Europa. A UE e a Turquia celebraram em 2016 um acordo no âmbito do qual Ancara se comprometia a combater a passagem clandestina de migrantes para território europeu em troca de ajuda financeira.
Erdogan lembrou que a Turquia abriga mais de 3,5 milhões de refugiados sírios e anunciou que iria deixar de ser a guardiã da Europa.
As declarações foram veementes criticadas pelos chefes da diplomacia da UE, que lamentaram o "uso político de migrantes" e pediram a Ancara que não quebrasse os compromissos no acolhimento de refugiados.
A Grécia é o país que mais sente a pressão migratória nas suas fronteiras externas com a Turquia, um problema que afeta a Bulgária e o Chipre.