Presidente do Zimbabué interrompe viagem após protestos
21 de janeiro de 2019"Devido à situação económica, voltarei para casa depois de uma semana muito produtiva de reuniões bilaterais de negócios", disse o Presidente no Twitter, cancelando sua participação no próximo Fórum de Davos, que começa esta segunda-feira (21.01). O país será representado pelo ministro das Finanças, Mthuli Ncube.
Emmerson Mnangagwa deslocou-se este domingo ao Cazaquistão, depois de ter iniciado a sua viagem à procura de investimento estrangeiro na segunda-feira na Rússia.
Pelo menos 12 pessoas morreram e 78 ficaram feridas com tiros nos protestos iniciados na semana passada, segundo o Fórum de ONG do Zimbabué, que documentou mais de 240 casos de agressão e tortura.
Mas essa brutal repressão é "apenas uma antecipação", alertou o porta-voz presidencial George Charamba, citado no domingo pelo jornal do Governo The Sunday News, acusando a oposição de fomentar a desordem. Charamba acompanha o presidente na sua viagem ao exterior.
Cerca de 700 pessoas foram presas, a internet foi temporariamente cortada duas vezes e as principais redes sociais ainda estão bloqueadas.
Repressão desperta receios antigos
A repressão, denunciada pela ONU, está a alimentar o receio de que o Zimbabué retome as práticas de 37 anos da presidência de Robert Mugabe, derrubado em novembro de 2017 pelos militares.
O ex-vice-Presidente Emmerson Mnangagwa, 76 anos, que o substituiu, prometeu revitalizar a economia depois de duas décadas de crise, mas desde outubro de 2018 houve protestos contra a escassez, a inflação e a depreciação da moeda, que se transformaram em tumultos na semana passada, após o anúncio de uma duplicação dos preços dos combustíveis.
A repressão exercida pelo exército e pela polícia, com muitos espancamentos e sequestros de opositores ou cidadãos comuns, foi fortemente criticada pela ONU.
Na sexta-feira, o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos instou Harare a "parar com a repressão", expressando alarme pelo "uso excessivo da força", incluindo o suposto tiroteio com balas reais.
Georges Charamba advertiu que "o MDC (Movimento para a Mudança Democrática, o principal partido da oposição) e seus afiliados serão totalmente responsabilizados pela violência e saques".
O exército e a polícia realizaram uma conferência de imprensa no sábado à noite para rejeitar as acusações de brutalidade, assegurando que alguns atacantes usavam uniformes para se fazerem passar por oficiais.