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Presidente eleito da Guiné-Bissau visita Portugal antes de tomar posse

João Carlos (Lisboa) / Lusa19 de junho de 2014

Em Lisboa, José Mário Vaz diz que é preciso recuperar a confiança da comunidade internacional. Os dois países ainda têm de resolver uma polémica do período de transição guineense: a suspensão dos voos da TAP para Bissau.

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Encontro de José Mário Vaz (esq.) com homólogo português Aníbal Cavaco SilvaFoto: Reuters

Depois da eleição das novas autoridades governamentais da Guiné-Bissau, abrem-se as portas para o restabelecimento das relações políticas e diplomáticas entre Lisboa e Bissau, suspensas na sequência do golpe de Estado de 12 de abril de 2012.

Lisboa deu o primeiro sinal para o reatamento das relações entre os dois países com a visita a Bissau, esta semana, do secretário de Estado português dos Negócios Estrangeiros, Luís Campos Ferreira – o primeiro governante europeu a fazê-lo.

Esta quinta-feira (19.06), o chefe de Estado português, Cavaco Silva, recebeu no Palácio de Belém, o Presidente eleito da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, que está na capital portuguesa para os primeiros contactos antes da sua tomada de posse, prevista para segunda-feira.

Jose Mario Vaz
José Mário Vaz , Presidente eleito da Guiné-BissauFoto: B. Darame

"Saio muito confiante devido à conversa que tivemos, e também não somente com o Presidente, também já fui recebido por muitas individualidades aqui em Portugal e todos manifestaram a vontade de apoiar e ajudar a Guiné-Bissau neste momento difícil", disse José Mário Vaz à saída do encontro privado com o chefe de Estado português.

"É para isso que estamos cá", para reconquistar a confiança da comunidade internacional, acrescentou o Presidente eleito guineense.

A posição de Lisboa, que assinala o fim do isolamento internacional da Guiné-Bissau, é apreciada pelo antigo chefe da diplomacia lusa, António Martins da Cruz.

"A Guiné-Bissau é um país muito importante para Portugal. Faz parte da CPLP e partilha connosco uma história comum e a língua portuguesa", disse à DW África. "Espero que os contactos do Presidente eleito da Guiné-Bissau em Lisboa sejam positivos e que se possam retomar as relações a nível diplomático, porque elas vão beneficiar não apenas a Guiné-Bissau mas também Portugal."

Pelo menos um mês até retoma dos voos

Um dos dossiers que os dois países têm em mãos é a retoma dos voos da TAP entre Lisboa e Bissau, que foram suspensos em dezembro de 2013, depois da tripulação da companhia aérea portuguesa ser coagida por forças de segurança guineenses a embarcar 74 passageiros ilegais.

Agora, com o regresso à normalidade constitucional, o Governo português quer ver os voos restabelecidos o mais rapidamente possível.

Flugzeug Fluggesellschaft TAP
Caso TAP foi maior incidente diplomático do período de transição guineenseFoto: Abdelhak Senna/AFP/Getty Images

A administração da transportadora, contactada pela DW África, admite que isso poderá acontecer um mês depois de obter do novo Governo de Bissau as garantias de segurança necessárias para a realização das ligações regulares.

"O motivo que justificará por parte da TAP a reanálise da situação será efetivamente esse fornecimento de garantias de que não haverá intromissões abusivas na aviação comercial, como aconteceu", diz o porta-voz da transportadora aérea portuguesa, António Monteiro. "Logo que sejam dadas garantias que se considerem suficientes, a TAP colocará de imediato em cima da mesa a análise das condições para a retoma das ligações."

António Monteiro sublinha que, por parte da TAP, há toda a "boa vontade" para a normalização das ligações aéreas com a Guiné-Bissau.

Transtornos

Nos últimos sete meses, a suspensão dos voos para Bissau causou muitos transtornos aos cidadãos guineenses em Portugal. Estevão Malú é um deles. No país há cinco anos, o médico, que está a concluir o mestrado em Lisboa, vai regressar dentro de pouco tempo à terra natal. É com satisfação que acolheu a notícia relativa à possível reposição dos voos e ao fim do isolamento internacional do seu país.

"Seria útil se a TAP pudesse, dentro do possível, retomar os voos, mas baseando-se em cláusulas bem claras: o preço dos bilhetes dos voos para a Guiné é muito mais caro em relação a outros países, como Angola por exemplo. Nós pagamos o dobro. Para muitos de nós é penoso. Mas como fazer? Não temos outra saída", diz o guineense. "Acho que a nova cooperação tem de rever esses aspetos, rever o custo dos bilhetes e outras coisas que são minuciosas mas importantes."

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Estevão Malú considera fundamental o apoio dos parceiros externos da Guiné-Bissau.

"Devemos aceitar os portugueses como parceiros prioritários para podermos realmente arrancar. Ninguém se levanta sozinho. Nós precisamos de parcerias e de pessoas que nos impulsionam no primeiro passo."

Malú acredita que, desta vez, as novas autoridades guineenses saídas das últimas eleições gerais saberão colocar o país no rumo certo.