Presidente português solidário com política de João Lourenço
9 de março de 2019Agostinho Sicatu, um analista político angolano, não tem dúvidas: a visita do Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa a Angola revigorou as afinidades entre os dois países e fez desaparecer as zonas cinzentas. "Claro que se fortificaram as relações e aquelas zonas que eram cinzentas puderam ser organizadas e fortificadas", comentou o politólogo à DW África.
Também Marcelo Rebelo de Sousa foi peremptório: as relações entre Angola e Portugal vivem um dos seus melhores momentos. "Classificaria o nível atual das relações políticas, económicas e sociais, culturais, todas, no plano bilateral e multilateral entre Angola e Portugal, de excelentes. Significa uma classificação de topo para aquilo que vivemos nos últimos seis meses e vamos continuar a viver", resumiu o chefe de Estado português.
Com um pé no Carnaval e outro no aniversário de João Lourenço
Marcelo Rebelo de Sousa chegou à capital angolana na terça-feira (05.03) e assistiu ao desfile de Carnaval na Marginal de Luanda, no dia em que o Presidente angolano João Lourenço completou 65 anos. Mas a sua agenda oficial começou apenas no dia seguinte com a visita ao memorial António Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola, e um encontro com o chefe de Estado angolano, João Lourenço.
Na conferência de imprensa conjunta, o Presidente angolano garantiu que a dívida às empresas portuguesas está a ser paga. Entre os dois Estados foram assinados 11 instrumentos de cooperação bilateral com destaque para dois protocolos sobre administração local e de segurança e ordem interna, bem como cinco memorandos de entendimento em diversas áreas.
Na quarta-feira (06.03), Marcelo Rebelo de Sousa foi condecorado com a Ordem Agostinho Neto, a mais alta distinção do Estado angolano. João Lourenço justificou a condecoração com o esforço que o Presidente português tem feito na melhoria das relações entre Luanda e Lisboa.
"Ao fazer a entrega desta medalha, estamos não só a reconhecer os méritos pessoais e políticos de vossa excelência à frente da nação portuguesa, o seu contributo no aprofundamento das relações entre os nossos povos e países, mas também a saudar por seu intermédio o povo português e transmitir-lhe os sentimentos de fraternidade e de solidariedade da parte do povo angolano", referiu João Lourenço.
Marcelo Rebelo de Sousa ou "Ti Celito" como é conhecido em Angola também esteve no Parlamento angolano, onde discursou. Respeito, gratidão e fraternidade marcaram os seus pronunciamentos na Assembleia Nacional.
Na quinta e sexta-feira (07.03 e 08.03), o Presidente dos afetos como é apelidado em Portugal, confirmou a sua popularidade nas províncias angolanas da Huíla e Benguela. Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido por milhares de pessoas.
O chefe de Estado luso elogiou João Lourenço, considerando que protagoniza um "projeto de paz, de democracia, de regeneração financeira, de desenvolvimento económico, de combate à corrupção", e declarou-se solidário com a sua política.
Num discurso já em tom de despedida, no penúltimo dia da visita de Estado a Angola, durante uma receção oferecida a João Lourenço e à sua mulher, Ana Dias Lourenço, num hotel em Luanda, Marcelo Rebelo de Sousa declarou que irá regressar a Portugal "saudoso e solidário". "Saudoso e solidário, com a vossa gesta nacional, com a sua política, senhor Presidente, com esse percurso imparável legitimamente ambicionando converter o sonho fundador venerado no Memorial Agostinho Neto numa dimensão de potência regional, continental e com afirmação no mundo", acrescentou.
Uma lição do professor
Para o analista Agostinho Sicatu, Marcelo Rebelo de Sousa, que é professor universitário jubilado, deu uma lição aos governantes angolanos sobre a aproximação com a população.
"O cidadão precisa de comer, precisa de vestir, precisa de andar à vontade e o cidadão gostaria de tocar num Presidente, dar-lhe um abraço, quiçá até passear um pouco também com ele. É isso que os cidadãos precisam. Mas os nossos governantes são alérgicos a isso", critica Agostinho Sicatu.
Marcelo Rebelo de Sousa deixa Luanda este sábado depois de uma visita oficial de quatro dias a Angola. Antes de iniciar esta visita, o chefe de Estado português disse à agência Lusa que foi "uma opção intencional" passar o terceiro aniversário do mandato em Angola e que "foi possível conjuntar o programa".