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Presidentes africanos em destaque na imprensa alemã

23 de março de 2012

Golpe de Estado no Mali e suspensão do país pela UA, segunda volta das presidenciais no Senegal no domingo (18.03), processo contra Jacob Zuma e vídeo "Kony 2012" dominaram a imprensa alemã durante a semana.

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PresseschauFoto: Fotolia

Foi "cerca de um mês antes da data prevista para as próximas eleições presidenciais" que ocorreu o golpe de Estado levado a cabo por militares no Mali na madrugada desta quinta-feira (22.03), lembra o Die Welt. Os militares anunciaram a dissolução de todas as instituições do país, o recolher obrigatório e o encerramento das fronteiras. E, continua o diário alemão, "os golpistas acusam [o presidente deposto, Amadou] Toumani Touré de fraqueza perante a rebelião tuaregue no norte do país".

De recordar que, nesta sexta-feira (23.03), a União Africana suspendeu o Mali até que a ordem constitucional seja restabelecida no país ocidental africano.

Segundo a edição online do Die Zeit desta quinta-feira, foi o "clima de insegurança" no país e "a incompetência do governo na luta contra o terrorismo" que levou os militares a organizarem o golpe de estado.

Soldados numa rua de Bamako, depois do golpe de Estado da madrugada de quinta-feira (22.03.) no Mali
Soldados numa rua de Bamako, depois do golpe de Estado da madrugada de quinta-feira (22.03.) no MaliFoto: Reuters

Ainda na quinta-feira, o Süddeutsche Zeitung escrevia que já "nas últimas semanas o exército tinha exigido diversas vezes do governo [de Bamako] que o equipasse melhor na luta contra os tuaregues no norte do país". O motim começou na quarta-feira, "durante a visita do ministro da defesa, o general Sadio Gassama, a uma base militar. Jovens rebeldes deram tiros para o ar e atiraram pedras ao carro do ministro", adiantava o jornal de Munique, citando soldados.

Sall: uma "esperança para os jovens"?

No país vizinho, o Senegal, aproxima-se a segunda volta das presidenciais: na corrida ao mais alto cargo político estão o chefe de Estado cessante, Abdulaye Wade, e o seu concorrente, Macky Sall. A ida às urnas é no domingo (25.03.).

Wade concorre para o seu terceiro mandato, o que já levou a distúrbios no país. Agora, escreve o Süddeutsche Zeitung, o líder da oposição, Sall, é a "esperança para os jovens": "quem deseja mudanças [no país] aposta nele. E por isso, Macky Sall tem hipóteses de vencer no domingo". Ainda citando o diário, "muitos irão suspirar de alívio se o homem de 51 anos [Macky Sall] conseguir".

Macky Sall (esq.) poderá vencer as eleições presidenciais no Senegal frente ao presidente cessante, Abdoulaye Wade (dir.)
Macky Sall (esq.) poderá vencer as eleições presidenciais no Senegal frente ao presidente cessante, Abdoulaye Wade (dir.)Foto: dapd

Quando Wade assumiu o cargo em 2000, escreve o Tageszeitung, "era visto como um modernizador que tinha quebrado a hegemonia do partido socialista no Senegal". Chegou mesmo a falar-se de Abdulaye Wade como "um segundo Nelson Mandela", lembra o jornal de Berlim.

Já em finais de fevereiro, o Frankfurter Rundschau citava o presidente em exercício, que tinha dito ao jornal francês ‘Le Journal du Dimanche’: "A minha maioria é tão esmagadora que eu deduzo que vá vencer já à primeira volta com uma grande percentagem [dos votos]". E continuava: "logo depois, o presidente iria formar um governo de unidade nacional, integrado também por membros da oposição". Ora, a oposição, a “esperança para os jovens”, concorre agora contra o próprio Wade.

Zuma: processo que o acusa de corrupção publicado parcialmente

Também o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, foi tema nos jornais alemães esta semana, depois de ser ordenada a divulgação dos documentos do processo-crime por corrupção contra ele. O processo tinha sido arquivado em 2009.

Segundo o Frankfurter Allgemeine Zeitung, tal "é do interesse público", embora "o tribunal constitucional tenha ordenado que apenas uma cópia reduzida da documentação devesse ser publicada".

Informa ainda o jornal que "a Aliança Democrática, principal partido da oposição, pretende saber por que razão o processo contra Zuma, em que o então candidato à presidência da África do Sul era acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e chantagem num negócio de equipamento do exército, foi arquivado apenas três semanas antes das eleições de abril de 2009". Razão citada: "Erros no processo".

Jacob Zuma (na imagem) é acusado de corrupção num processo publicado agora parcialmente
Jacob Zuma (na imagem) é acusado de corrupção num processo publicado agora parcialmenteFoto: AP

“Kony 2012”: todos o viram menos as vítimas

Ainda esta semana o video "Kony 2012", divulgado na internet, continuou a ser tema nos jornais alemães. Até agora, esta foi a campanha online contra um criminoso de guerra procurado internacionalmente que mais sucesso teve. Pelo menos no que toca ao número de visitas na internet e no que toca ao público jovem.

Mas, escreve o Tagesspiegel, "a realidade atropleou o filme: Kony já não se encontra no Uganda, o Exército de Resistência do Senhor atua no Congo, na República Centro-Africana e no Sudão do Sul". As críticas continuam – e, de tal forma fortes que o realizador do video, Jason Russell, "foi detido na cidade de San Diego, nos Estados Unidos, e internado numa clínica, depois de ter andado nu pela rua".

Até agora, o video já foi visto por mais de 80 milhões de pessoas pelo mundo fora – "só as vítimas da guerra civil que se arrastou por 20 anos entre o Exército de Resistência do Senhor (LRA) de Joseph Kony e o exército ugandês não tiveram a oportunidade de ver o vídeo por não terem acesso à internet", como noticiou o Tageszeitung.

Autora: Marta Barroso
Edição: Renate Krieger