Presidentes africanos em destaque na imprensa alemã
23 de março de 2012Foi "cerca de um mês antes da data prevista para as próximas eleições presidenciais" que ocorreu o golpe de Estado levado a cabo por militares no Mali na madrugada desta quinta-feira (22.03), lembra o Die Welt. Os militares anunciaram a dissolução de todas as instituições do país, o recolher obrigatório e o encerramento das fronteiras. E, continua o diário alemão, "os golpistas acusam [o presidente deposto, Amadou] Toumani Touré de fraqueza perante a rebelião tuaregue no norte do país".
De recordar que, nesta sexta-feira (23.03), a União Africana suspendeu o Mali até que a ordem constitucional seja restabelecida no país ocidental africano.
Segundo a edição online do Die Zeit desta quinta-feira, foi o "clima de insegurança" no país e "a incompetência do governo na luta contra o terrorismo" que levou os militares a organizarem o golpe de estado.
Ainda na quinta-feira, o Süddeutsche Zeitung escrevia que já "nas últimas semanas o exército tinha exigido diversas vezes do governo [de Bamako] que o equipasse melhor na luta contra os tuaregues no norte do país". O motim começou na quarta-feira, "durante a visita do ministro da defesa, o general Sadio Gassama, a uma base militar. Jovens rebeldes deram tiros para o ar e atiraram pedras ao carro do ministro", adiantava o jornal de Munique, citando soldados.
Sall: uma "esperança para os jovens"?
No país vizinho, o Senegal, aproxima-se a segunda volta das presidenciais: na corrida ao mais alto cargo político estão o chefe de Estado cessante, Abdulaye Wade, e o seu concorrente, Macky Sall. A ida às urnas é no domingo (25.03.).
Wade concorre para o seu terceiro mandato, o que já levou a distúrbios no país. Agora, escreve o Süddeutsche Zeitung, o líder da oposição, Sall, é a "esperança para os jovens": "quem deseja mudanças [no país] aposta nele. E por isso, Macky Sall tem hipóteses de vencer no domingo". Ainda citando o diário, "muitos irão suspirar de alívio se o homem de 51 anos [Macky Sall] conseguir".
Quando Wade assumiu o cargo em 2000, escreve o Tageszeitung, "era visto como um modernizador que tinha quebrado a hegemonia do partido socialista no Senegal". Chegou mesmo a falar-se de Abdulaye Wade como "um segundo Nelson Mandela", lembra o jornal de Berlim.
Já em finais de fevereiro, o Frankfurter Rundschau citava o presidente em exercício, que tinha dito ao jornal francês ‘Le Journal du Dimanche’: "A minha maioria é tão esmagadora que eu deduzo que vá vencer já à primeira volta com uma grande percentagem [dos votos]". E continuava: "logo depois, o presidente iria formar um governo de unidade nacional, integrado também por membros da oposição". Ora, a oposição, a “esperança para os jovens”, concorre agora contra o próprio Wade.
Zuma: processo que o acusa de corrupção publicado parcialmente
Também o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, foi tema nos jornais alemães esta semana, depois de ser ordenada a divulgação dos documentos do processo-crime por corrupção contra ele. O processo tinha sido arquivado em 2009.
Segundo o Frankfurter Allgemeine Zeitung, tal "é do interesse público", embora "o tribunal constitucional tenha ordenado que apenas uma cópia reduzida da documentação devesse ser publicada".
Informa ainda o jornal que "a Aliança Democrática, principal partido da oposição, pretende saber por que razão o processo contra Zuma, em que o então candidato à presidência da África do Sul era acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e chantagem num negócio de equipamento do exército, foi arquivado apenas três semanas antes das eleições de abril de 2009". Razão citada: "Erros no processo".
“Kony 2012”: todos o viram menos as vítimas
Ainda esta semana o video "Kony 2012", divulgado na internet, continuou a ser tema nos jornais alemães. Até agora, esta foi a campanha online contra um criminoso de guerra procurado internacionalmente que mais sucesso teve. Pelo menos no que toca ao número de visitas na internet e no que toca ao público jovem.
Mas, escreve o Tagesspiegel, "a realidade atropleou o filme: Kony já não se encontra no Uganda, o Exército de Resistência do Senhor atua no Congo, na República Centro-Africana e no Sudão do Sul". As críticas continuam – e, de tal forma fortes que o realizador do video, Jason Russell, "foi detido na cidade de San Diego, nos Estados Unidos, e internado numa clínica, depois de ter andado nu pela rua".
Até agora, o video já foi visto por mais de 80 milhões de pessoas pelo mundo fora – "só as vítimas da guerra civil que se arrastou por 20 anos entre o Exército de Resistência do Senhor (LRA) de Joseph Kony e o exército ugandês não tiveram a oportunidade de ver o vídeo por não terem acesso à internet", como noticiou o Tageszeitung.
Autora: Marta Barroso
Edição: Renate Krieger