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MédiaAngola

Eleições: Pressões sobre jornalistas em Angola vão piorar

Lusa
9 de fevereiro de 2022

A coordenadora do programa africano do Comité para a Proteção de Jornalistas considera que as pressões em Angola vão piorar com as eleições gerais de agosto e que o Governo só quer que seja ouvida a sua voz.

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Foto: Getty Images/AFP/M. Longari

"Nas vésperas eleitorais há sempre a questão da segurança dos jornalistas, e vimos isso em Angola, no último ano documentámos várias violações à liberdade dos meios de comunicação social, e vários jornalistas têm processos criminais de difamação", disse Angela Quintal, vincando que a situação vai piorar com a aproximação das eleições de agosto.

Em entrevista à Lusa a propósito da situação da liberdade de imprensa nos países lusófonos, na sequência do ataque à Rádio Capital, na Guiné-Bissau, a antiga jornalista na África do Sul salientou que em Angola há "vários jornalistas detidos durante a cobertura de protestos, há uma aparente censura dos jornalistas, incluindo nos meios estatais, e também houve a suspensão de cadeias independentes de televisão". 

Numa referência ao caso da Vida TV e Zap Vida, Angela Quintal lembrou que estes órgãos eram críticos do Presidente João Lourenço e saíram do ar de forma ostensiva porque não tinham os documentos certos, mas quando os arranjaram, um dos ministros do Governo disse que não voltariam à emissão tão cedo".

"As coisas aquecem nas vésperas das eleições"

Isto, para a ativista, "manda a mensagem de que as coisas não estão bem para os jornalistas em Angola, e vão piorar à medida que as coisas aquecem nas vésperas das eleições", previstas para agosto.

Muthoki Mumo e Angela Quintal (dir.), investigadoras do Comité para a Proteção de Jornalistas
Muthoki Mumo e Angela Quintal (dir.), investigadoras do Comité para a Proteção de Jornalistas Foto: Committee to Protect Journalists

"Um país vibrante como Angola devia ter meios de comunicação vibrantes, devia ter múltiplas vozes e não tem e o que o Governo quer é garantir que só se ouve a sua voz, e com isso quem sofre são, primeiro, os jornalistas, mas em última análise é a população que sofre, porque têm direito a ter liberdade de informação e escolher o que querem ouvir, ver e ler", lamentou.

Questionada sobre se está desapontada com o Presidente da República, Angela Quintal admitiu que sim: "Pouco depois de tomar posse, escrevemos-lhe e pedimos-lhe para garantir a proteção dos jornalistas, e acreditámos que seria uma oportunidade de garantir que haveria meios de comunicação social vibrantes, já que não vimos isso durante o longo reinado do seu antecessor".

Uma "relíquia colonial"

No entanto, continuou, não se viu isso, "as coisas ficaram piores, e a arma usada contra os jornalistas para os silenciar e censurar é uma relíquia colonial, que é a difamação criminal, que foi usada várias vezes contra os jornalistas, alguns por coisas que escreveram há vários anos, e enfrentam agora investigações por causa disso".

A ativista lamentou que os jornalistas "estejam a ser chamados à Procuradoria-Geral da República em ano eleitoral" e lembrou que o Comité "documentou vários casos no último ano, incluindo um jornalista condenado a dois anos por este crime, e há oito investigações em curso a jornalistas com base neste crime".

Na entrevista à Lusa, Angela Quintal lembrou que "a própria União Africana fez um pedido especial a todos os Estados para abolir esta lei, e se Angola está empenhada nesta organização, certamente devia fazer o que os órgãos da UA pedem", mas não é o caso, concluiu.

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