Preços crescentes da gasolina atingem toda a África
5 de março de 2022Reina o caos numa bomba de gasolina na capital económica da Nigéria, Lagos. Os condutores discutem uns com os outros, há buzinas a soar constantemente. As filas para abastecer são grandes.
Noutras cidades do país, o cenário é idêntico. Os motoristas querem abastecer, antes que o combustível acabe. Joy Agbonifo é uma das muitas pessoas que está na fila: "Abastecer combustível é como garimpar ouro. Andamos à procura horas a fio, sem ter garantias de que vamos conseguir encontrar combustível. Há muitas pessoas que estão a armazenar o combustível para depois venderem mais caro. É nisto que a Nigéria se tornou," disse.
Problema global
Mas esta é apenas uma faceta de um problema global, de acordo com os economistas. O preço do barril de crude subiu em flecha na retoma económica que se seguiu ao auge da pandemia da Covid-19; a procura de produtos petrolíferos aumentou.
Agora, com a invasão russa da Ucrânia, os preços voltaram a disparar, devido aos receios de uma quebra na oferta.
A Rússia é um dos três maiores produtores de petróleo, em conjunto com os Estados Unidos e a Arábia Saudita. As sanções aplicadas pelo Ocidente à Rússia, por causa da guerra na Ucrânia, não visam diretamente as exportações de petróleo do país, mas o mercado global teme um efeito de contágio, que possa estrangular a produção de petróleo. O resultado: combustível caro e escasso.
A Nigéria, por exemplo, é um país rico em petróleo, mas pobre em refinarias. É um problema bastante comum no continente, afirma o economista nigeriano Abdul-Ganyu Garba.
"Muitos países da África subsaariana que são ricos em matérias-primas não administram os seus recursos de forma a serem autossuficientes", explica Garba.
Garantir combustível barato?
A Nigéria garante a todos os cidadãos combustível barato – o equivalente a cerca de 36 cêntimos de euro por litro de gasolina. Angola e o Chade – outros dois países produtores de petróleo – também têm preços mínimos garantidos. Mas os subsídios aos combustíveis saem cada vez mais caro ao Estado à medida que o preço do combustível importado aumenta.
Porém, a batalha pelo combustível não se restringe à Nigéria. No Burkina Faso, por exemplo, os preços subiram 8%. Na África do Sul, dados do Instituto Nacional de Estatísticas mostram que, em dezembro de 2021, os preços dos combustíveis aumentaram 40,5% em comparação com o ano anterior.
No Burundi, em janeiro, o Governo aumentou os preços em 13%. Segundo Aloys Bakicako, líder do partido da oposição União Nacional pela Mudança, "foi a primeira vez na história do Burundi que o preço do combustível subiu tão repentinamente". E tudo isto tem consequências para muitos outros setores. Os transportes semicolectivos, por exemplo, ficam cada vez mais caros, também gerando protestos, como aconteceu recentemente em Moçambique. Os preços dos alimentos da cesta básica também aumentam.
No Quénia, muitos cidadãos foram para as redes sociais exigir comida mais barata, com o hashtag #lowerfoodprices. Tudo encareceu, os alimentos, a eletricidade e o combustível.