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Primavera Árabe continua a ser tema de debate entre ativistas africanos

Philipp Sandner / Guilherme Correia da Silva 3 de julho de 2014

Terminou esta quarta-feira (2.07), em Bona, na Alemanha, a conferência internacional Global Media Forum, organizada pela DW. Repercussões da Primavera Árabe na África a sul do Sahara estiveram entre os temas em debate.

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Foto: DW/M. Müller

Em 2011, as revoluções que derrubaram os regimes de países como a Tunísia, a Líbia ou o Egito desencadearam uma onda de protestos um pouco por todo o continente africano. Três anos depois, activistas de vários países debateram o que resta desses protestos. Uma coisa é certa: O trabalho dos activistas não é fácil.

Na capital da Etiópia, Addis Abeba, os activistas costumam dizer quando se cumprimentam: “Está tudo bem na zona 9?” É que, como diz o blogger Eshete Bekele Tekle, “em Addis Abeba há uma prisão famosa dividida em oito zonas. A cidade de Addis Abeba é a zona 9". "Todos nós estamos numa prisão, porque o Governo [nos] controla demasiado", afirma.

Em Maio de 2011, o jovem etíope esteve nas manifestações contra o Governo do então primeiro-ministro Meles Zenawi. O movimento de protesto seguiu o exemplo da chamada Primavera Árabe, no norte de África. Os manifestantes acusavam o Governo de violar os direitos humanos e reprimir a liberdade de expressão. Na altura, Zenawi não se mostrou muito preocupado. Uma revolução como no Egito não seria possível na Etiópia. Ele teve razão: a onda de protestos diminuiu no país antes de as multidões irem para as ruas.

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Depois da morte inesperada do primeiro-ministro Zenawi em Agosto de 2012, muitos etíopes esperaram que a situação no país mudasse. Mas nada mudou, diz Tekle. “O Governo controla tudo. Há corrupção, má gestão, o poder e a riqueza não são distribuídos de forma justa. A mudança só pode partir das pessoas. Mas não sei como é que isso se faz", admite.

Protestos reprimidos e violação de direitos humanos

Em Bona, na Alemanha, o blogger etíope encontrou-se com activistas do Zimbabué, do Chade e de Angola. Num painel da conferência internacional Global Media Forum, os activistas debateram os protestos que se seguiram à Primavera Árabe um pouco por todo o continente africano. Em Angola, por exemplo, os protestos foram brutalmente reprimidos. As forças de segurança angolanas mataram três activistas, críticos da política do Presidente José Eduardo dos Santos.

Global Media Forum 2014 Revolution Postponed 01.07.2014
Eric Topona, antigo correspondente da DW no Chade e Eshede Bekele Tekle, jornalista e blogger etíope participam no painel "Revolution Postponed" (Revolução adiada)Foto: DW/M. Müller

O jornalista e activista angolano Rafael Marques sublinhou durante o debate em Bona que “os ditadores entram em contacto uns com os outros, ajudam-se mutuamente. É por isso que Angola compra diamantes ao Zimbabué: para ajudar Mugabe!”

Robert Mugabe, de 90 anos, está no poder desde 1980. Foi primeiro-ministro e é Presidente desde 1987. Vindas de dentro e de fora, são constantes as acusações de graves violações dos direitos humanos, má gestão e repressão da oposição no país. A activista zimbabueana Jenni Williams já foi presa mais de cinquenta vezes por criticar abertamente o regime. “É preciso perceber o que leva as pessoas a ir para as ruas", explica. "Elas vão para o espaço público porque as eleições já não trazem democracia! Eu tinha 18 anos quando foi a independência no Zimbabué. Até agora, vi muitas eleições mas não vi democracia!”, diz a activista.

Rafael Marques
Rafael Marques, jornalista e activista angolanoFoto: DW/J. Beck

É preciso que os cidadãos continuem a reivindicar ao Estado os seus direitos, acrescenta ainda Williams: “Eu não quero o poder! Quero apenas mandar os meus filhos para a escola, quero que eles encontrem trabalho. O meu papel é pedir isso aos políticos. Essa é uma tarefa importante! Vamos assumi-la! Nem todos nos devemos tornar políticos. Eu não quero ser a presidente do Zimbabué!”

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