PM guineense "encorajado" com apoio "sem precedentes"
26 de março de 2015"A comunidade internacional está com a Guiné-Bissau", declarou Nick Westcott, do Serviço Europeu de Ação Externa para África, no encerramento da mesa redonda de doadores que decorreu esta quarta-feira (25.03) em Bruxelas.
Os dirigentes da Guiné-Bissau voltaram para casa com a promessa de ajudas financeiras de mais de mil milhões de euros – este é um apoio "sem procedentes" na história do país, como sublinhou o primeiro-ministro guineense. Domingos Simões Pereira não escondeu a sua "grande satisfação" pelo apoio dado pelos doadores à ambiciosa estratégia apresentada pelo seu Governo para o período 2015-2025 e dividida em várias fases.
A agro-indústria, as pescas, o turismo e a exploração dos recursos minerais do país foram definidos por Bissau como os principais vetores de crescimento económico. A visão estratégica foi aplaudida no final do encontro e louvada num comunicado assinado pelos cerca de 70 participantes da conferência na capital belga, que pediram também reformas estruturais para que o desenvolvimento do país seja sustentável.
Admitindo que a Guiné-Bissau tem pela frente "uma enorme responsabilidade", o chefe do Governo sugeriu ainda a realização de reuniões de acompanhamento e monitorização, de seis em seis meses.
Em entrevista à DW África, Domingos Simões Pereira mostrou-se satisfeito porque os principais objetivos da conferência foram atingidos: foi retomada a cooperação com os doadores e foram mobilizadas verbas para implementar o programa estratégico. "Sinto-me motivado e encorajado para o muito trabalho a fazer", afirmou.
DW África: Esperava esta mobilização da comunidade internacional e angariar esta soma de ajudas financeiras?
Domingos Simões Pereira (DSP): Esta mobilização ultrapassou as nossas expetativas mais otimistas. Quem participou na reunião do Grupo Internacional de Contacto em Nova Iorque e do comité [na Comissão] de Consolidação da Paz, quem esteve na reunião do Conselho de Segurança e em todas as outras reuniões que fizemos, junto da CEDEAO e da CPLP, tinha a ideia da atenção que estávamos a merecer da comunidade internacional. Mas é óbvio que a demonstração desta solidariedade ultrapassou as expetativas e nós só podemos agradecer.
DW África: Esperavam angariar, pelo menos, 427 milhões de euros e conseguiram muito mais…
DSP: Nós estabelecemos fases para o nosso programa. Colocámos como primeira etapa o período da legislatura, que são cerca de três anos e meio. A segunda etapa é 2020 e a terceira 2025. Fizemos uma primeira avaliação para o período de três anos e meio e chegámos a essa soma de 450 milhões de dólares. Felizmente, a comunidade internacional acredita que temos capacidade de, nesse período, implementar muito mais do que prevíamos aqui. Foi por essa razão que triplicou a sua confiança em relação ao pedido da Guiné-Bissau.
DW África: Uma das apostas da Guiné-Bissau é, precisamente, a reforma do setor da Defesa e Segurança.
DSP: Talvez esse seja o aspeto mais enfatizado, mas as reformas da Justiça e da Administração Pública, incluindo uma maior capacidade de prestação de contas e de acompanhamento da implementação dos projetos, são também elementos que têm de receber uma atenção muito especial de toda a sociedade guineense.
DW África: Conseguiu convencer os parceiros internacionais de que não haverá mais influência militar na política da Guiné-Bissau? Sentiu esse receio por parte dos doadores?
DSP: Penso que a comunidade internacional está a dar um sinal ao povo guineense. É importante que o povo guineense saiba interpretá-lo como um sinal de oportunidade. Não esteve em avaliação o Domingos e o Governo. Quem esteve em avaliação foi o povo guineense e é esse povo que tem de demonstrar que merece a atenção e oportunidade que foram aqui demonstradas.
DW África: O que vai dizer aos guineenses quando voltar a casa?
DSP: Exactamente isso, que continua a depender de nós. Se trabalharmos, se formos sérios e se levarmos em linha de conta as várias recomendações que foram aqui feitas, o caminho à nossa frente vai ser duro mas de muito sucesso.
DW África: O senhor primeiro-ministro e o senhor Presidente da República estão mais unidos neste virar de página da Guiné-Bissau? Os desentendimentos noticiados pela imprensa foram ultrapassados?
DSP: Sempre foram questões da imprensa. Eu nunca admiti qualquer tipo de problemas com o senhor Presidente da República. Eu sempre disse que estamos a tratar de assuntos muito difíceis. Muitas vezes, perante essas situações difíceis, as nossas posições podem não ser coincidentes, mas, quando é necessário, colocamos a Guiné-Bissau em primeiro lugar, como ficou aqui provado hoje. É isso que conta.