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Primeiro-ministro japonês encerra périplo africano em Maputo

Lusa | mjp
4 de maio de 2023

Depois de passar pelo Egito, Gana e Quénia, em Moçambique, Fumio Kishida prometeu expandir o investimento que o Japão já faz no país lusófono e disse que quer fazer a ponte entre os "países do sul" e o G7.

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Foto: Kyodo/picture alliance

O primeiro-ministro japonês terminou esta quinta-feira (04.05) em Maputo um périplo por África e disse que o Japão quer ser a ponte entre os "países do sul" e o G7, grupo dos sete países mais industrializados do mundo, a que preside desde janeiro. 

"Eu resolvi ouvir as vozes dos chamados 'países do sul' e ter a função de servir de ponte com o G7: através desta visita histórica pude ouvir as questões que os países estão a enfrentar", como o impacto da alta de preço dos alimentos e energia, referiu Fumio Kishida.

"A causa é a invasão russa da Ucrânia", e não "sanções impostas pelo G7" como defende quem quer "dividir o mundo", disse o chefe do Governo, sublinhando que as conversas mantidas em África giraram em torno da "importância de fortalecer uma ordem internacional livre e aberta, baseada no Estado de Direito, em que tentativas de mudar o 'status quo' pela força não são aceitáveis", numa alusão à ofensiva da Rússia.

Dar voz aos "países do sul" em Hiroshima

Kishida passou desde sábado por quatro países africanos incluindo o Egito, Gana e Quénia, quando faltam duas semanas para a próxima reunião do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unidos), marcada para 19 de maio em Hiroshima.

"À reunião do G7, em Hiroshima, vou levar a voz dos vários países" e o grupo deverá fortalecer a sua relação de maneira concreta com os "países do sul", disse.

"Acredito que estas visitas" aos quatro países africanos "têm sido significativas para enriquecer as discussões no G7", referiu o primeiro-ministro, acrescentado que ao se "saber de perto os problemas de vários países", permite conseguir-se consenso.

Na conferência de imprensa final, em Maputo, o líder nipónico reiterou a defesa de "princípios óbvios e inquestionáveis, como o respeito pela soberania, integridade territorial", num contexto que classificou como "um momento decisivo" para a comunidade internacional.

Fumio Kishida / Filipe Nyusi
Fumio Kishida e Filipe Nyusi à chegada do PM japonês, na quarta-feiraFoto: Kyodo/picture alliance

Mais investimento

Fumio Kishida visitou a capital moçambicana desde quarta-feira acompanhado por uma comitiva empresarial que promete expandir o investimento que o Japão já faz no país lusófono, sinalizando aquele que diz ser o seu desejo de fortalecer a cooperação do G7 com os "países do sul", dinâmica que quer fazer chegar ao G20 em setembro e à cimeira especial da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, sigla inglesa) em dezembro.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o primeiro-ministro do Japão defenderam a expansão do investimento privado japonês em "áreas estruturantes" da economia do país lusófono, visando resultados "concretos" da cooperação bilateral.

Os chefes de Estado falavam na Presidência da República, em Maputo, após um encontro entre as delegações oficiais dos dois países. "Continuamos a convencer o setor privado japonês para investir em projetos estruturantes", frisou Nyusi.

O Presidente moçambicano avançou que gostaria de ver o empresariado nipónico envolvido na exploração de oportunidades de investimento nos transportes, agricultura, indústria e turismo, pelo potencial destas áreas de criar desenvolvimento e emprego. Nyusi apontou ainda a importância da presença de capital japonês nos projetos de gás da bacia do Rovuma, onde o país está presente através da Mitsui no consórcio detentor da Área 1.

Schiffsplattform Saipem
Bacia do RovumaFoto: ENI East

Segurança em foco

Fumio Kishida classificou  a segurança em Cabo Delgado, região no norte de Moçambique afetada por insurgência armada, como "extremamente importante" e garantiu apoio aos esforços de estabilização. 

"Isso é extremamente importante também para a operação das empresas japonesas no norte de Moçambique", referiu em Maputo, na conferência de imprensa final do seu périplo por África. 

A japonesa Mitsui faz parte do consórcio liderado pela TotalEnergies que em 2021, devido a ataques armados, teve de suspender o maior investimento privado em África: 20 mil milhões de euros para construção de uma fábrica de exploração e liquefação de gás natural em Palma, Moçambique. 

Outras firmas nipónicas participam na cadeia de investimentos relacionados com o projeto. 

"O Governo do Japão também está disposto a impulsionar os esforços para a recuperação da segurança e já estamos comprometidos em dar apoio financeiro", disse, sem detalhes. 

População em fuga no norte de Moçambique

Solidariedade com a Ucrânia

No final do encontro com o PM japonês, o Presidente moçambicano manifestou solidariedade para com "as vítimas inocentes" da invasão russa da Ucrânia e o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, condenou as ameaças de Moscovo de recurso a armas nucleares no conflito. 

"As populações estão a morrer, as cidades estão a ser destruídas sem nenhuma razão palpável e nós, Moçambique, deixamos a nossa mensagem de solidariedade para com as populações vítimas inocentes", afirmou Nyusi.

Filipe Nyusi apelou ao fim do conflito, manifestando a disponibilidade de Maputo para a assunção de um papel que vise a resolução pacífica da guerra no leste Europeu. "Não há país pequeno", no apoio a soluções que possam ajudar a terminar a guerra, disse.

Por seu turno, o primeiro-ministro japonês condenou a Rússia pelas ameaças de recurso a armas nucleares na guerra com a Ucrânia, considerando esta possibilidade inaceitável. "A ameaça de armas nucleares pela Rússia é inaceitável, muito menos o uso delas", realçou.

Fumio Shikida repudiou igualmente o que considerou serem esforços de Moscovo de tentar mudar a ordem internacional pela "força bruta", defendendo a manutenção dos princípios assentes no Estado de Direito.

Noutro âmbito, o Presidente moçambicano enalteceu "a verticalidade" de Fumio Kishida na condenação aos confrontos armados no Sudão, alertando para a crise humanitária que está a ser provocada pelo conflito. Nesse sentido, Filipe Nyusi apelou ao Japão um olhar atento aos problemas africanos, durante a presidência nipónica do grupo dos países mais ricos do mundo, conhecido por G-7.

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