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Prisões angolanas continuam sobrelotadas

Maria João Pinto7 de maio de 2013

Dois responsáveis prisionais foram demitidos após agressão de reclusos na Prisão de Viana. Na mesma cadeia, recentemente houve uma rebelião de presidiários. Dois episódios que refletem a sobrelotação das cadeias.

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Estabelecimento Prisional em Harare, no Zimbabué.
Estabelecimento Prisional em Harare, no Zimbabué.Foto: Columbus Mavhunga

Nos últimos anos, de acordo com as organizações não governamentais angolanas, registou-se um aumento dos motins nos estabelecimentos prisionais de Angola. As más condições das infra-estruturas e a sobrelotação estão, na maior parte das vezes, na origem dos incidentes, dizem vários relatórios das ONG, apoiadas por instituições como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch.

Em 2011, a associação de defesa dos direitos humanos "Mãos Livres" denunciou o alto número de reclusos em prisão preventiva e a sobrelotação das cadeias, onde se registavam ainda surtos de cólera, casos de violência e tortura. Já em 2000, a Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD) começava a lançar os primeiros alertas para os mesmos problemas. Desde então, diz a ativista Lúcia Silveira, quase nada mudou. "A maioria dos problemas que nós verificamos naquela altura continuam:"

A ativista afirma que a associação tinha "recomendado ao governo que melhorasse as condições", que aumentassem "o número de procuradores nas esquadras e também criar tribunais municipais para permitir que o tribunal consiga responder com a demanda e puder julgar para assim puder desafogar as prisoes" mas, segundo a activista, os apelos não têm sido ouvido e "infelizmente essas situações não mudaram muito."

Em Angola, em 2011, havia mais de 55 mil reclusos nas cadeias de todo o país, a braços com uma grave sobrelotação dos estabelecimentos. Hoje, diz a gestora de programas de direitos humanos da AJPD, o principal problema mantém-se, "apesar de algumas insituições prisionais municipais terem sido construídas." Lúcia Silveira acrescenta que "estão neste momento a construir outras instituições mas há problemas de fundo que devem ser verificados para se acabar com a superlotação". Para a activista a resolução do problema "não é apenas a construção de novos estabelecimentos prisionais"

Recluso na Prisão Central de Harare, no Zimbabué
Recluso na Prisão Central de Harare, no ZimbabuéFoto: Columbus Mavhunga

Direitos humanos violados

O segundo relatório sobre os direitos humanos e a administração da justiça penal em Angola, lançado em 2010 pela associação Justiça, Paz e Democracia denunciava vários casos de violação dos direitos humanos dos presos angolanos.

De acordo com Lúcia Silveira, a sobrelotação, que continua por resolver, contribui para o agravar da situação. "Os presos ficam doentes, as condições de habitabilidade tornam-se cada vez mais insuportáveis o que provoca rebelião e outras questões", afirma a activista.

Sobrelotação não deverá ser resolvida até 2014

Em Julho do ano passado, o Ministério do Interior angolano anunciou a elaboração de um plano de expansão das infraestruturas prisionais, através do qual prometia acabar com a sobrelotação das prisões até 2014. Um prazo que não será cumprido, na opinião de Lúcia Silveira, pois para isso acontecer, a activista acredita ser necessário que "uma série de instituições" colaborem "para a concretização deste objectivo." E, segundo  a ativista, "isso não tem estado a acontecer."

Superlotação também nas prisões do Zimbabué
Superlotação também nas prisões do ZimbabuéFoto: Columbus Mavhunga

"Não visualizo a resolução deste problema até 2014", sublinha Silveira. Para a ativista, as questões de fundo não estão a ser modificadas e sugere por exemplo, "a criação de penas alternativas para permitir então que se desafogue as prisões que temos neste momento."

O aviso da AJPD é claro: não chega construir mais cadeias. Prisões, Procuradoria-Geral da República e tribunais têm que colaborar na resolução do problema, que é também uma consequência dos problemas sociais que continuam a atingir Angola. De acordo com a associação, enquanto os cidadãos angolanos não tiverem acesso a educação, emprego e condições dignas de vida, a sobrelotação das prisões está longe de ser ultrapassada.

Prisões angolanas continuam sobrelotadas