Problemas técnicos atrasaram o arranque da fábrica angolana de LNG
Considerada um dos pilares do desenvolvimento de Angola, a primeira fábrica angolana de gás natural liquefeito, ou na sigla inglesa LNG (Liquefied Natural Gás), deveria ter começado a funcionar em março de 2012. Cerca de um ano depois, o projeto Angola LNG no Soyo, no norte do país ocidental africano, ainda não foi inaugurado para produzir 5,2 mil milhões de toneladas anuais de LNG.
A propósito do atraso no arranque na produção de LNG angolano, a DW África entrevistou José Oliveira, jornalista especializado em energia, ligado à revista "Energia" e coordenador do núcleo de Energia da Universidade Católica de Angola.
Antevendo a exportação do gás natural angolano, os Estados Unidos deveriam ser o principal mercado de compra do produto. Mas, por causa da melhoria da produção interna, José Oliveira constata que as portas norte-americanas estão se fechando para o gás natural angolano. Mas, apesar da atual autosuficiência dos Estados Unidos, José Oliveira acredita que existem outros mercados para o gás angolano.
DW África: Quais foram os motivos para os vários adiamentos do início das operações de processamento de gás natural no Soyo, norte de Angola?
José Oliveira (JO): Houve duas séries de problemas técnicos graves. Os primeiros problemas ocorreram, mais ou menos esta altura, em março do ano passado. Depois, quando tudo parecia resolvido e se começou a fazer os testes para se pôr a fábrica em funcionamento, houve novos problemas técnicos. Estes últimos relativamente mais graves, porque houve inclusive tubagens que rebentaram. O que se decidiu fazer foi uma revisão de todo o processo da fábrica para ver o que é que não estava a funcionar bem além de se repararem as coisas danificadas.
Tanto quanto sei, as coisas danificadas estão reparadas e ainda que não tenhas informações em pormenor, penso que, em breve, nas próximas semanas, a fábrica vai novamente entrar em testes para que comece a trabalhar. Só que agora vai-se ter muito mais cuidado. Se calhar vai demorar mais tempo a fazer o arranque porque as fases de testes vão ser mais lentas para não acontecer mais nenhum problema.
DW África: Como avalia a necessidade atual de os Estados Unidos importarem gás natural liquefeito?
JO: Com a evolução da produção e o grande incremento da produção do gás de xisto e também das bacias carboníferas, os Estados Unidos deixaram de precisar de importar gás natural. Aliás, nos Estados Unidos assiste-se, neste momento, a um esforço de todos aqueles proprietários de terminais de receção de gás natural liquefeito para fazerem complexos de LNG para exportar. Porque os Estados Unidos têm, neste momento, gás natural suficiente para o seu consumo e terão alguma folga para exportação. Os mercados americano e canadiano vão estar, durante muitos anos, fechados à importação de LNG.
DW África: Portanto isso prejudica a exportação de LNG por parte de países como Angola?
JO: O que Angola tem de fazer é exportar para outros sítios. Na altura, a decisão de se levar o gás para o mercado americano era porque a entrada no mercado era fácil, todos os sócios de LNG estavam dispostos a não ficar à espera daqueles acordos clássicos a longo prazo, como a 20 anos, para a compra de gás e, portanto, faziam o complexo e entravam no mercado de gás americano.
Agora como o mercado americano está fechado à importação, porque não precisa, os complexos como o de Angola e outros que venham a surgir (daqui a uns anos vamos ter os de Moçambique, por exemplo) vão exportar para a Ásia e para a Europa. A situação para os exportadores não é má porque os europeus e os asiáticos cada vez compram mais carregamentos de LNG nos mercados pobres. Porque a Europa e a Ásia estão amarradas, em mais de 80% das suas importações de LNG, a contratos a longo prazo. Esses contratos a longo prazo têm fórmulas que são amarradas ao preço do petróleo. Isso faz com que a Europa e a Ásia importem LNG a preços bastante elevados.
Até o fechamento da edição desta entrevista, a DW África não conseguiu contatar os responsáveis do projeto Angola LNG para obter explicações sobre o motivo do adiamento das operações da fábrica no Soyo.