Professores ameaçam fazer nova greve em Moçambique
20 de abril de 2024A Associação Nacional de Professores (ANAPRO) diz que o Executivo decidiu aumentar o número de alunos nas salas de aula, o que está muito acima do rácio professor-aluno recomendado pelos padrões de qualidade, para reduzir as horas extraordinárias dos professores.
A ANAPRO chamou a imprensa este sábado (20.04) para contestar o tratamento que os professores recebem do Governo moçambicano e desmentir as informações prestadas esta semana pelo primeiro-ministro, Adriano Maleiane, sobre o processo de pagamento de horas extras dos professores.
Nível de execução questionada
Adriano Maleiane teria anunciado esta quarta-feira (17.04) no Parlamento, na sessão de perguntas ao Governo, que o Executivo tinha em curso o processo de pagamento de horas extraordinárias aos funcionários do estado, com destaque para Saúde e Educação, tendo um nível de execução de 70%.
Sefundo o presidente da associação, Isac Marrengula, dos 13 meses devidos em horas extras, apenas dois meses foram pagos até agora, deixando muitos professores frustrados e desmotivados.
"O que nós podemos garantir é que do universo pago, não chega a 30% por cento dos professores que receberam as horas extras", lamentou aos jornalistas.
O primeiro-ministro também referiu no Parlamento que foi feita uma investigação em que se concluiu que algumas horas extraordinárias reclamadas não correspondiam a verdade. Os professores desmentem essas alegacões, e frisaram que, devido à natureza das suas atividades, muitas vezes veem-se obrigados a trabalhar em casa para corrigir provas e planificar as aulas.
A ANAPRO anunciou que deu ao Governo moçambicano um prazo de 6 dias para resolver esses diferendos, antes de considerar uma possível paralisação das atividades.
Isac Marrengula diz que os professores trabalham num ambiente de opressão perpetrado pelas autoridades. "A opressão é tao grande e exacerbada que a cada dia que passa os colegas são repreendidos e intimidados, ameaçados e transferidos de forma irregular", frisou.
Más condições
Alguns professores das escolas da cidade da Maxixe, na província de Inhambane, contestaram recentemente as más condições a que estão sujeitos. A imprensa local noticiou que este grupo de manifestantes foi transferido sem informação prévia e sem explicação plausível sobre as razões da medida.
O presidente da ANAPRO recorreu também ao Provedor de Justiça, para interceder por estes professores. "Esta semana, fui ao gabinete do Provedor de Justiça para apelar para que sejam anuladas as transferências irregulares e vingativas que estão a acontecer, porque não faz nenhum sentido que reclamando pelos nossos direitos sejamos perseguidos", sublinhou.
Em janeiro deste ano, os professores já tinham ameaçado boicotar o arranque do ano letivo se o Governo não pagasse as horas extraordinárias em dívida. Esta situação obrigou o executivo a iniciar o processo de pagamentos desde 2022.