Médicos dizem que crise do petróleo ameaça saúde pública
9 de março de 2015Segundo Rosa Cirilo, o setor da saúde enfrenta dias difíceis com a crise do petróleo em Angola. A farmacêutica fornece medicamentos e equipamento médico a clínicas e hospitais, sobretudo analgésicos para intervenções estomatológicas. Mas, segundo ela, nos últimos tempos, os bancos não têm pago aos fornecedores estrangeiros a tempo e horas, por falta de divisas. Por isso, não tem conseguido importar medicamentos necessários com urgência.
"Se esta situação continuar por muito mais tempo vamos ter de repensar o negócio", diz Rosa Cirilo. "Este é um país que vive das importações. Não há fábricas de medicamentos, que, normalmente, vêm da Alemanha, de Portugal, da Polónia, dos Estados Unidos da América, do Brasil. Sem receber o dinheiro, os fornecedores não mandam a mercadoria."
Sair do país?
O Dr. Luís Filipe, chefe de uma conceituada clínica especializada em medicina tradicional chinesa, em Luanda, diz que o seu maior problema é a falta de material necessário para as terapias.
"Tinha um grande stock, mas já está a chegar ao fim", conta. O médico sublinha que o seu problema não é a falta de dinheiro, mas sim os enormes atrasos nas transferências bancárias e nos pagamentos aos fornecedores, tal como as restrições nas importações.
O Banco Nacional de Angola nega quaisquer restrições e assegura que não há razões para atrasos. Mas, segundo o Dr. Luís Filipe, o certo é que os atrasos são grandes, muitos e generalizados e ele já pensa em ir para o estrangeiro. "A minha situação está periclitante e estou a pensar sair do país, porque temo não ter material para tratar os meus pacientes. […] Este desenvolvimento de Angola era completamente fictício e só estava assente na especulação do petróleo. O trabalho de casa estava todo por fazer."
Quem sofre são os pacientes
Agora, quem sofre são os pacientes. Sobretudo quem não tem possibilidade de ir para o estrangeiro para se tratar: "As pessoas com mais posses metem-se num avião e vão para a Namíbia, África do Sul, Portugal", afirma o médico angolano.
O Governo angolano investe menos de três por cento do Produto Interno Bruto (PIB) na área da saúde. Com a baixa do preço do crude nos mercados internacionais, os investimentos neste setor baixarão ainda mais.
O Dr. Luís Filipe prevê dias ainda mais difíceis: "Eu digo muitas vezes que a situação de Angola, ao nível da saúde, é como a de um doente com cancro em fase terminal."