Próximo governo de Moçambique terá muitos desafios
29 de agosto de 2014Durante 45 dias terá lugar em todos os cantos de Moçambique a campanha para as eleições gerais (presidenciais, legislativas e assembleias provinciais). A campanha terminará oficialmente dois dias antes da votação.
Enquanto isso, vários analistas já perspetivam os desafios que esperam o próximo governo moçambicano. Com a exploração dos recursos naturais, a sociedade vai exigir mais do executivo para que este combata a pobreza e melhore a vida dos moçambicanos. Académicos em Moçambique referem que o Estado terá a tarefa de tornar os recursos naturais numa bênção.
O governo que sair das eleições de 15 de outubro terá pela frente a dura tarefa de devolver ao país uma convivência pacífica entre o Estado e a sociedade. O próximo executivo terá ainda de afastar a ideia de que o Estado é capaz de resolver todos os problemas da sociedade.
Libertar-se da tutela do Estado
Os moçambicanos vão precisar de se libertar da tutela do Estado para ter capacidade de responder todas as vontades políticas, afirmou em Maputo o sociólogo Elísio Macamo.
“E isso vai ser útil para que o governo, qualquer que seja o partido que o suporte, faça uso dos recursos do país de acordo com aquilo que é a vontade da sociedade moçambicana”, sublinhou.
De uma maneira geral, Elísio Macamo dá uma receita para melhorar a qualidade da política em Moçambique nos próximos tempos, tendo destacado uma “maior preocupação pela discussão objetiva dos problemas que temos."
Segundo o sociólogo, é natural que cada moçambicano tenha a sua preferência política e ideológica. "Todas as questões também podem ser abordadas a partir de uma perspetiva objetiva. Quais são os méritos de uma questão e até que ponto esses méritos têm espaço no debate na nossa sociedade”, concluiu.
Recursos naturais criam diferenças sociais?
Os recursos naturais abriram portas para novas oportunidades de lucro para o capital. O certo é que os recursos estão a criar diferenças sociais mais acentuadas.
Segundo o economista Nuno Castel-Branco, a exploração dos recursos naturais deverá, com alguma urgência, refletir na satisfação das necessidades da sociedade moçambicana.
“E no fim vamos ter problemas como, por exemplo, se a pobreza diminui ou não, o que é que acontece com os transportes públicos, por que é que os hospitais não têm medicamentos, por que é que nas escolas a qualidade da educação piora e tantos outros", explica.
O economista sublinha que é verdade que Moçambique tem mais universidades, mais escolas e mais postos de saúde, “mas a qualidade dos serviços prestados piorou”.
A exploração dos recursos naturais causou a expectativa de que Moçambique iria sair rapidamente da extrema pobreza. Mas pode ser o contrário, alerta Nuno Castel-Branco. “Pode ser que haja pessoas que venham perder terras, venham ser expropriadas. Pode ser que algumas pessoas venham a ficar mais pobres e outras percam o seu modo de vida", exemplifica.
Segundo o especialista, "possivelmente grupos sociais irão desaparecer enquanto tal. Mas isso é feito num processo que resulta, acidentalmente ou não, ou então conscientemente, num processo de acumulação de capital por alguns outros grupos”.
Eleições gerais aguardadas com expetativa
O país vai a votos no dia 15 de outubro, depois de cerca de dois anos de tensão político militar.
Para o académico Luís de Brito, com o fim das hostilidades “espera-se que este seja agora o primeiro passo de uma caminhada de reforço da democracia, da inclusão e da promoção de uma convivência dos partidos e dos cidadãos cada vez mais respeitadores das diferenças e atentos ao debate sobre as opções de desenvolvimento”.
Estes pronunciamentos foram feitos na esteira da quarta conferência internacional do Instituto de Estudos Sociais e Ecómicos (IESE), sob o lema “Estado, recursos naturais e conflito: atores e dinâmicas”.