Putin defende "operação militar" na Ucrânia
18 de março de 2022O Presidente russo, Vladimir Putin, disse esta sexta-feira (18.03) que invadir a Ucrânia foi uma decisão acertada, tal como anexar a península ucraniana da Crimeia, há precisamente oito anos.
"Acabar com o sofrimento das pessoas e com o genocídio é o motivo principal da operação militar no Donbass e na Ucrânia", afirmou Putin perante dezenas de milhares de pessoas que se juntaram para celebrar o oitavo aniversário da anexação no estádio Luzhniki, em Moscovo.
O público agitava bandeiras da Rússia e com a letra "Z", que se tornou o símbolo do apoio às tropas russas na Ucrânia. Vladimir Putin saudou também o esforço dos soldados: "As palavras da Bíblia Sagrada vêm-me à cabeça: não há maior amor do que dar a vida pelos amigos".
Nas redes sociais, críticos de Putin acusaram Moscovo de obrigar estudantes e funcionários públicos de diversas regiões a participar nas cerimónias do aniversário da anexação, acusações não confirmadas por fontes independentes.
De acordo com organizações de defesa dos direitos humanos, milhares de cidadãos russos que protestaram no país contra a guerra foram detidos.
Operações de resgate em Mariupol
A guerra na Ucrânia dura há 23 dias. Estima-se que milhares de civis e soldados dos dois lados foram mortos; não se sabe ao certo o número.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou que 130 pessoas foram resgatadas com vida de um teatro da cidade de Mariupol, no sudeste do país. O edifício era usado como abrigo e foi bombardeado esta semana pelas forças russas.
Zelensky referiu, no entanto, que havia muitas outras pessoas por resgatar: "Centenas de residentes de Mariupol permanecem debaixo dos escombros. Apesar dos bombardeamentos, apesar de todas as dificuldades, continuamos os trabalhos de resgate", afirmou.
De acordo com as autoridades ucranianas, as forças russas bombardearam também alvos no oeste do país. Atingiram uma oficina de manutenção de aviões junto ao aeroporto de Lviv, cidade por onde têm passado centenas de milhares de pessoas que procuram refúgio na vizinha Polónia.
Avanços para um cessar-fogo?
A Rússia disse, entretanto, que há avanços nas negociações de paz.
"O assunto de um estatuto neutro e da não adesão da Ucrânia à NATO é um dos pontos chave das negociações, e é sobre isso que as partes estão a aproximar as posições o máximo possível", disse Vladimir Medinski, negociador-chefe da delegação russa, citado pela agência de notícias "TASS".
Moscovo justificou a invasão da Ucrânia - a que chamou de "operação especial" para "desmilitarizar" o país - com a necessidade de obter garantias de segurança, exigindo a Kiev que se comprometesse a não aderir à NATO. Inicialmente, Volodymyr Zelensky rejeitou a pretensão russa, mas recentemente admitiu abdicar da intenção de se juntar à Aliança.
Durante uma videoconferência, esta sexta-feira, o Presidente chinês, Xi Jinping, pediu ao homólogo norte-americano, Joe Biden, que os dois países trabalhem em conjunto pela paz mundial.
Biden alertou Xi Jinping para as "implicações e consequências" de ajudar Moscovo.
Guerra provocará fome
Devido à guerra na Ucrânia, a Rússia está a ser alvo de fortes sanções do Ocidente. Em muitas lojas de Moscovo houve uma corrida ao açúcar - as prateleiras ficaram vazias. O sal tem sido outro dos produtos mais comprados, tal como o trigo-sarraceno, um alimento indispensável para muitas famílias russas.
Várias organizações internacionais, incluindo o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), alertaram esta sexta-feira para as consequências nefastas da guerra na Ucrânia na economia global, particularmente no que diz respeito ao fornecimento de energia e de alimentos.
Segundo a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, a guerra significará "fome" para o continente africano.
A Rússia e a Ucrânia são dois dos maiores exportadores mundiais de trigo, além de serem grandes produtores de milho, óleo de girassol e fertilizantes.
"A pandemia ensinou-nos uma lição muito simples. Quando o nosso sistema imunológico está fraco e um vírus o ataca, ficamos numa situação de risco muito maior. O mesmo acontece com a fragilidade económica", avisou Georgieva.