Moçambique: "Qualquer mãe faria o que fiz"
11 de novembro de 2024Casimira Macamo, moçambicana de 36 anos de idade, tem a sua imagem viralizada nas redes socias por enfrentar a Polícia da República de Moçambique (PRM) no momento das manifestações em contestação aos resultados das eleições gerais de 9 de outubro.
Por este motivo, foi confundida com uma líder das manifestações e defensora dos direitos humanos e apelidada como a "nova Josina" de Moçambique - em referência a Josina Machel, considerada um modelo de inspiração do movimento das mulheres.
Em entrevista à DW, a jovem esclarece que não é líder de nenhuma manifestação e afirma que estava naquele lugar "para tirar satisfações da PRM por ter lançado gás lacrimogénio contra oa seus filhos".
Deusch Well: O que lhe teria motivado para se fazer às manifestações naquele dia em que foram capturadas as suas imagens?
Casimira Macamo (CM): Eu não estava a liderar nenhuma manifestação e não sou líder demanifestação. Naquele dia, eu estava em casa a fazer meus trabalhos domésticos. Os meus filhos estavam dentro e, de repente, a minha filha mais velha começa a gritar dizendo "mãe aqui está a arder". Eu os retirei de dentro de casa e, depois de deixá-los bem, fui para fora procurar saber o que estava a acontecer, o porque da polícia lançar gás (lacrimogéneo) dentro da minha casa.
DW: O que é que a polícia justificou naquele momento?
CM: Chegando lá, fui ter com o comandante responsável pela sua brigada e procurei saber o motivo delançar gás nos quintais sem necessidade, porque a população está a se manifestar de forma pacífica. Então. ele disse que a população estava a atirar pedras eu e disse que não era verdade.
DW: Qual foi o desfecho da conversa que teve com a polícia?
CM: Quando conversei com o comandante, ele de seguida fez uma ligação e, posteriormente, falou com os seus colegas. Chegou-se a um acordo que eu também não queria um conflito. Depois de ter falado com a polícia, fui falar com a população e pedir que eles continuassem com a manifestação de forma pacifica, levantando os cartazes, cantando sem ofender a polícia, e muito menos arremessarem pedras.
DW: Naquele momento era uma mãe preocupada com a saúde dos seus filhos falando com apolíciae não uma líder de manifestações?
CM: Poderia repetir o ato mais de dez veze se fosse necessário, porque eu sei qual é a dor de perder um filho, porque já perdi um filho numa das manifestações que houve na greve dos médicos. Por isso, não pude ficar em casa. Saí como mãe e perguntei ao comandante se ele não tinha filhos e lhe disse para que não se esquecesse-se que, para além da farda, é pai, filho e avô, e que tem pessoas que se preocupam com ele.
DW: Depois daquele ato, como é que tem sido a sua vida nos últimos dias?
CM: Já não saio de casa, e quando saio as pessoas vivem me chamando "Josina, Josina". Isso é embaraçoso para mim. Eu concedi uma entrevista para esclarecer esse assunto, porque me questionavam de todos os lados: o que realmente teria acontecido? E eu não respondia porque não tinha nada a dizer. Só fui lá para defender aquilo que é meu, que são os meus filhos. As pessoas estão a falar muitas inverdades sobre aquelas imagens e, qualquer mãe no meu lugar faria o que eu fiz.