Quarto Fórum Económico Alemão-Angolano marcado pela crise económica
16 de junho de 2011Desde a sua primeira edição, em 2008, o fórum tornou-se o maior evento bilateral de negócios entre empresas da Alemanha e Angola. A quarta edição tem lugar nesta quinta e sexta-feira (16 e 17 de junho de 2011) em Munique no Sul da Alemanha.
Organizado pela associação empresarial alemã "Afrika-Verein", o evento conta este ano com a presença de mais de 200 representantes de empresas, instituições e dos governos alemães e angolanos.
Quem já participou em outras edições do Fórum Económico Alemão-Angolano, notou uma diferença: o tom em Munique foi cauteloso. Já lá vão os tempos do entusiasmo puro pelo crescimento com taxas de dois dígitos em Angola.
A crise de 2009, ano em que Angola sofreu uma recessão, deixou marcas. Ela teve consequencias bem visíveis na balança comercial, não só em 2009, mas também em 2010. As exportações alemãs para Angola sofreram uma queda de 30 por cento: de 2008 para 2010 desceram de 388 para 263 milhões de euros. As exportações angolanas para a Alemanha, pior ainda: sofreram uma baixa de 50 por cento - de 469 para 228 milhões de euros.
Comércio entre Angola e Alemanha cresceu nos primeiros meses deste ano
Peter Hintze, Secretário de Estado do Ministério alemão da Economia, trouxe para o fórum notícias animadoras, quando afirmou que "estamos a ver uma mudança da direção: nos primeiros três meses deste ano, o comércio entre Angola e a Alemanha cresceu mais de 46 por cento em comparação com os primeiros três meses de 2010", disse Hintze para acrescentar que "isto se deve principalmente à crescente importação pela Alemanha do crude não-refinado angolano."
Segundo as previsões dos representantes do Governo de Angola no fórum, a economia angolana deve crescer à volta dos 3,6 por cento em 2011. Inicialmente, o governo angolano previa o dobro. Mas problemas com a produção petrolífera obrigaram o governo a rever, em baixa, essas previsões: há atrasos na entrada em funcionamento de plataformas novas e os campos existentes não produzem o esperado.
Motivo para diminuir a dependência do país do petróleo – o "ouro negro" representa 94 por cento das exportações e mais de 90 por cento das receitas do estado.
Fórum apela para o surgimento de indústrias próprias em Angola
Construir indústrias próprias em Angola, este foi um apelo comum dos dois governos representados no fórum. "As empresas alemãs podem ser bons parceiros", sublinhou o Secretário de Estado da Economia, Peter Hintze, antes de destacar que "o engajamento das empresas alemãs é normalmente de longo prazo". E referindo-se às empresas do seu país o Secretário de Estado alemão afirmou que "são parceiros de confiança e adotam os padrões internacionais de qualidade e de proteção ambiental. Assim, também criam oportunidades importantes de formação e de qualificação para a população local" concluiu.
Também não faltaram críticas no fórum. Jens Peter Breitengroß, Presidente da associação empresarial "Afrika-Verein", que organizou o evento, criticou a burocracia existente em Angola, tendo afirmado que "muitas empresas foram a Angola depois do primeiro fórum para fechar parcerias locais. Nem sempre com sucesso"... e arrematou " Angola, é um país muito peculiar. Nem sempre é fácil trabalhar lá. Temos muita burocracia na Alemanha, mas também em Angola". E o Presidente da "Afrika-Verein", conclui ao afirmar que "possuir e administrar uma empresa em Angola custa muito e tem um preço alto. E muitos empresários alemães ainda por cima têm problemas com a língua portuguesa."
Angola promete diminuir tempo e burocracia para as empresas que queiram instalar-se no país
Do lado angolano houve várias promessas para melhorar a situação. A idéia é diminuir o tempo e a burocracia necessária para a instalação de empresas estrangeiras no país. Por outro lado, existem vários projetos com vista intensificar o diálogo entre os dois países, como anunciou o embaixador angolano na Alemanha, Alberto Bento Ribeiro: "O passo decisivo, o passo principal que poderá ser dado, será o estabelecimento duma comissão bilateral para a cooperação económica".
O embaixador angolano disse que só assim "vai ser possível de facto, nós ao nível dos dois governos, discutirmos os grandes projetos que atualmente já temos com os outros parceiros europeus". E Bento Ribeiro é categórico quando afirma que "o nosso relacionamento com a Europa será sempre distorcido, se não conseguirmos aumentar o valor do relacionamento económico com a Alemanha."
A nova comissão permanente deve ser instalada durante a viagem da chanceler alemã, Angela Merkel, a Luanda que está prevista para os dias 12 e 13 de julho.
Autor: Johannes Beck
Edição: António Rocha