Que consequências terá o Uganda por receber afegãos?
26 de agosto de 2021Um grupo de 51 refugiados afegãos chegou esta quarta-feira (25.08) ao Uganda onde serão acolhidos temporariamente até serem reassentados de forma definitiva nos Estados Unidos e outros países. O país africano espera 2 mil pessoas que estão a fugir dos Talibãs.
Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Uganda, houve um pedido do Governo americano para que o grupo fosse recebido em Campala.
O Uganda é o terceiro maior destino de refugiados do mundo e traz longa tradição quando o tema é acolhimento, mas este acordo com os EUA não é bem visto por todos. Analistas questionam, no entanto, os critérios do Governo ugandês para fazer este acordo com Washington e temem o desencadear de ataques terroristas no país africano.
"O que o povo do Afeganistão e os Talibãs que assumiram o controle do país pensarão de nós? Se pensarmos que os EUA têm 50 estados, alguns desses estados são maiores do que o Uganda; se pegássemos os 50 estados e os dividíssemos por 2 mil pessoas, cada estado teria 40 pessoas. Por que o Uganda deve então aceitar 2 mil pessoas?", questiona o político Francis Babu.
Oportunidades para Museveni
No entanto Chris Baryomunsi, ministro da Tecnologia da Informação e Comunicação do Uganda, frisa que os refugiados não serão um fardo para o país, ao contrário do que têm alegados muitos ugandeses. Segundo o governante todos os custos associados serão assegurados pelos EUA durante a passagem do grupo.
"Quando recebemos o pedido do ponto de vista moral, não podíamos recusar porque temos que apoiar a humanidade. Vamos apoiá-los pelo pouco tempo que ficarão aqui e depois seguirão para o seu destino final", diz Baryomunsi.
Alguns ugandeses temem que a presença de refugiados afegãos no país possa desencadear ataques terroristas por parte de simpatizantes dos talibãs e militantes islâmicos. "Refugiados afegãos podem desviar a atenção de terroristas internacionais como Al Qaeda, Al Shabaab e Estado Islâmico e desestabilizar o país”, diz o historiador Mwambutsya Ndebesa.
Ainda assim o historiador reconhece que o Uganda poderá beneficiar do acordo bilateral, porque os países ocidentais passariam a observar o país como um forte aliado nos seus interesses estratégicos. Segundo Ndebesa, o Presidente Yoweri Museveni "passará uma imagem positiva de que é generoso e lavará a sua imagem quanto aos abusos de direitos humanos”.
O Uganda acolhe mais de 1,6 milhões de refugiados - principalmente do vizinho Sudão do Sul e da República Democrática do Congo. A maioria vive em grandes campos de refugiados no norte do país, mas 81 mil estão na capital Campala.