"O Campo da Morte" denuncia assassinatos de jovens angolanos
30 de novembro de 2017O mais recente trabalho de investigação do jornalista e ativista Rafael Marques intitulado "O Campo da Morte", que deveria ter sido publicado na quarta-feira (29.11.), só será divulgado daqui a cinco dias, em resposta a um pedido de adiamento para que as novas autoridades de Angola possam ter contacto direto com o documento, disse em entrevista à DW África Rafael Marques.
"Recebi um pedido para adiar a publicação do relatório para que o documento seja encaminhado a quem de direito para que possa tomar medidas no sentido de aferirem o grau de comprometimento do novo Presidente para com a questão dos direitos humanos. E eu como cidadão engajado nas causas dos direitos humanos e por ser uma pessoa do diálogo, acedi aguardar por cinco dias para que então as novas autoridades tomem contacto direto com o relatório. Mas também devo acrescentar que o ministro do Interior é o mesmo do Governo anterior e portanto já tem os casos. Mas vamos utilizar outras vias para que outras entidades tenham acesso à informação antes de ser divulgado publicamente".
Em resposta à pergunta se este compasso de espera (cinco dias) pode ser interpretado como um teste ao Presidente de Angola, João Lourenço, no que concerne a uma nova postura em relação aos direitos humanos no país, Rafael Marques afirmou que "fiz o meu trabalho como cidadão e espero que o Presidente faça o seu. Agora não vou dar uma opinião se o Presidente vai ou não respeitar os direitos humanos. Vou esperar para ver qual é a reação oficial porque a primeira reação oficial, a do senhor Amaro Neto (diretor provincial do Serviço de Investigação Criminal - SIC), é péssima, porque ele também falou em nome de uma instituição do Estado angolano".O serviço de Investigação Criminal angolano, na verdade já rejeitou o conteúdo do relatório "O campo da Morte". O diretor provincial de Luanda do SIC, Amaro Neto, afirmou à imprensa na passada terça-feira (28.11.) que "os esquadrões da morte, em Angola, nunca existiram". Mas Marques considera muito estranho este pronunciamento. "Os esquadrões da morte existem e são indivíduos que operam sob responsabilidade do SIC e estão a dizimar dezenas de jovens nos municípios de Viana, de Cacuaco...são casos bem documentados e muitos assassinos são bem conhecidos. Por isso mesmo acho muito estranho que o departamento de investigação não tenha tido a preocupação de antes inteirar-se dos casos. O mesmo diretor provincial do SIC disse que iria enviar o caso à Procuradoria-Geral da República. E digo mais, este senhor Amaro Neto será responsabilizado pelo que disse porque é uma prova de que ele está a dar cobertura a esses assassinos".E o investigador e jornalista angolano vai mais longe ao afirmar que "escrevi aos ministros do Interior e da Justiça e dos Direitos Humanos em abril reportando-lhe esses casos, carta essa com cópias ao Procurador-Geral da República, ao Comandante-Geral da polícia nacional e ao presidente da Assembleia Nacional. E aí se vê que ou o diretor do SIC está a mentir ou então o ministro. Repito, todos eles estão informados desde abril. Agora pergunto: porque é que só agora se pronunciam? Porque é que só agora falam da investigação e não quando receberam os casos numa altura que nem sequer havia conversa pública?".
Nesta quinta-feira (30.11.), Rafael Marques, denunciou um novo caso relacionado com as execuções sumárias, no qual a mãe vê quem mata o filho. "Trata-se de um oficial operativo do SIC no Comando de Divisão da polícia nacional no município de Cazenga. Este mesmo assassino foi ao funeral da sua vítima acompanhado por oficiais da polícia porque o pai da vítima é um oficial do Serviço de Emigração e Estrangeiros e não lhe aconteceu absolutamente nada com a proteção da polícia. Que mais provas o SIC quer", conclui Rafael Marques