Quelimane regista alto índice de abandono de corpos
24 de outubro de 2022As mortes e o abandono massivo de corpos nas morgues nos hospitais de Quelimane, na província moçambicana da Zambézia, voltaram à discussão na assembleia autárquica.
A cada 15 dias, avança a direção de Saúde e Ação Social autárquica, são recolhidos mais de 30 corpos nas morgues para serem enterrados em valas comuns. Alguns são recém-nascidos abandonados por familiares por falta de condições para a sepultura.
O diretor de Saúde, Gracio Armando, mostra-se preocupado com a situação. "As mortes estão ainda na mesma intensidade, estamos a falar de recém-nascidos, estamos a falar de abandono de alguns corpos. Saem doentes dos distritos e por falta de condições económicas, depois da sua morte são abandonados na morgue", relata.
Armando afirma que a edilidade está a proceder à sepultura dos corpos em valas coletivas, tal como ocorre noutras autarquias de Moçambique.
Desvio de fundos
No entanto, Joaquim Malua, da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), diz que a situação é crítica e acusa a edilidade de desviar os fundos de assistência funerária aos carenciados.
"Em todos os planos e orçamento de cada ano temos aprovado valores altos para o fabrico de caixões destinados para as pessoas que não têm condições, sobretudo os corpos não reclamados. Na pratica, não é isso o que está a acontecer", critica Malua, que ressalta que a edilidade tem utilizado valas comuns para enterrar os corpos abandonados.
Número de corpos tende a crescer
O relatório das autoridades locais dá conta que o número de corpos abandonados nas morgues neste semestre subiu para 219, contra os 208 no semestre anterior.
A questão das mortes e abandono de corpos nos hospitais em Quelimane já tinha sido discutida em 2020, mas voltou a gerar debate. O presidente da assembleia autárquica de Quelimane, Manuel José, diz que o número de corpos abandonados nos hospitais tende a crescer.
"Mas trata-se de nados-mortos, que têm um tratamento muito especial. As famílias remetem-se quando de facto for uma questão de tradição muito forte, tem havido tratamento condigno talvez por uma questão de contenção do espaço", esclarece o presidente da assembleia de Quelimane.