Quem irá se candidatar à presidência do MPLA?
29 de abril de 2016De acordo com fonte ouvida pela DW África em Luanda, que preferiu não ser identificada, alguns militantes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) reúnem os requisitos para concorrer à presidência do partido no poder em Angola - cargo ocupado por José Eduardo dos Santos há quase 37 anos.
A fonte diz também que os militantes gostariam de fazê-lo, mas receiam eventuais retaliações devido ao fato de persistir a dúvida sobre se o atual presidente do partido, que já anunciou abandonar a política ativa em 2018, concorrerá ou não à sua própria sucessão.
Ainda segundo a mesma fonte, muito dificilmente a referida subcomissão irá registrar mais de uma candidatura.
Manutenção de regalias
Opinião semelhante tem o advogado e analista Domingos Chipilika, para quem o fato de grande parte dos dirigentes do MPLA ter enriquecido às custas da governação de José Eduardo dos Santos desaconselha qualquer confronto ao atual líder do partido.
"Não haverá um outro candidato diferente do camarada José Eduardo dos Santos, por causa do medo daqueles que poderiam enfrentá-lo, que são aqueles que hoje têm o monopólio financeiro. Ora, como essas pessoas conseguiram esse monopólio financeiro? Foi, durante algum tempo, por alguns esquemas," afirma Chipilika.
"Ora, ninguém está disposto a viver na penúria. Durante alguns anos, quando houve aquela iniciativa do Presidente de que não iria ser o candidato, e apareceram alguns a indicarem que seriam os candidatos, alguns deles passaram à penúria," recorda.
Democracia "orientada"
Para justificar ainda mais a sua descrença a um eventual processo democrático na eleição do presidente do MPLA, o analista dá outro exemplo.
"Se houvesse um sentido de o partido ser mais democrático, já poderíamos ver ao nível das conferências comunais e municipais. Se reparar bem, muitos dos eleitos - secretários comunais, de certeza que também os provinciais vão dançar a mesma música - é sempre no âmbito da orientação. Até já se sabe, a priori, quem é sempre o vencedor," pondera.
Para o analista, "se ao nível da base ainda não se vinca isto [o processo democrático], temos algumas dúvidas que ao nível do próprio presidente do MPLA haja indicadores para este fim".
Permanência no poder
A 11 de março do ano em curso, durante a 11ª Reunião Ordinária do Comité Central do MPLA, Eduardo dos Santos, a cinco meses de completar 37 anos como Presidente de Angola e do partido no poder, anunciou a sua retirada da vida política ativa em 2018 sem, no entanto, ter clarificado se estará disponível para concorrer às eleições gerais de 2017 ou à liderança do seu partido, a realizar-se em agosto próximo.
Seja lá qual venha a ser o cenário, o jurista Domingos Chipilika, entende que, numa possível desistência do atual presidente do partido, qualquer um que venha apresentar a sua candidatura para a liderança do MPLA deverá ser um delfim de Dos Santos.
O jurista acrescenta ainda que, no caso de José Eduardo dos Santos permanecer como presidente do partido, "terá sempre influência ativa no exercício da governação, seja quem for o Presidente de Angola. No fundo, terá sempre um delfim como Presidente da República e ele vai mandar nos bastidores".
No momento do anúncio da abertura das candidaturas, o Bureau Político do Comité Central do MPLA apelou a todos os seus militantes, particularmente aos que pretendam candidatar-se, que o façam - aludindo ao espírito do reforço da democracia interna, da unidade e da coesão no seio do partido.
A DW África contatou o departamento de Informação e Propaganda da subcomissão de candidaturas do MPLA, que prometeu se pronunciar sobre o assunto nos próximos dias.