Contrabando de madeira na Zambézia
7 de setembro de 2017As declarações do Presidente da República, Filipe Nyusi aquando da deslocação à Zambézia no início do mês, causaram alguma surpresa entre os populares. Nyusi criticou severamente os guardas florestais e outras autoridades locais, acusando-os de fechar os olhos à pilhagem da madeira em curso.
O Presidente disse mesmo suspeitar que as entidades responsáveis pela proteção do património florestal estão envolvidas diretamente no contrabando de madeira: "Vocês não veem o que estão a fazer? Ou os vossos olhos estão fechados com o dinheiro? Como é que a madeira é roubada da floresta e chega ao porto de Quelimane sem que seja intercetada?", disse Nyusi.
O Presidente lembrou os populares que Moçambique perde milhões com o contrabando de madeira. É preciso evitar que um pequeno grupo fique rico em detrimento da maioria dos moçambicanos, acrescentou: "Eu até sinto vergonha, quando vou visitar estes países e me perguntam: 'Como é a situação no seu país? Esta madeira, nós compramos lá a dez mil meticais (140 euros), mas aqui custa milhões de dólares'. Eu finjo que não sei de nada."
Ordens "vêm de cima"
A Direção Provincial da Agricultura da Zambézia, responsável pelos guardas florestais, não comenta as declarações de Filipe Nyusi. Remete apenas para os resultados da "Operação Tronco": no início do ano, as autoridades moçambicanas apreenderam mais de 150 mil metros cúbicos de madeira ilegal em seis províncias, incluindo na Zambézia.
Já Ângelo Amaro, diretor-executivo da organização não-governamental, Kukumbe, diz que a pilhagem dos recursos naturais não é culpa dos guardas florestais, ao contrário do que o Presidente moçambicano dá a entender. As ordens vêm de cima, acusa Amaro: "O Presidente não deveria dizer isso. O ministro dá ordens por telefonemas para a madeira passar até ao porto da Beira, por exemplo. Será que o guarda ou régulo comunitário tem autonomia de impedir? O Presidente sabe exatamente o que está a acontecer."
Sucesso no combate do abate clandestinoAmade Naleia, representante do Fórum das Organizações Não-Governamentais da Zambézia (FONGZA), acrescenta que houve melhorias nos últimos meses: o corte e venda ilegal da madeira diminuíram significativamente com a intervenção das organizações da sociedade civil.
Ainda assim continua a haver obstáculos, denuncia Naleia: "Nós, muitas vezes, ficamos surpreendidos! Intercetamos na estrada um traficante com muita madeira no seu camião. Quando vamos avisar as autoridades, dois ou três dias depois, vemos que a madeira junto com o camião já não esta lá no local e o dono foi-se embora. Nós ficamos sem perceber o que se passa."