Quenianos voltam às ruas para exigir demissão do Presidente
3 de julho de 2024"Continuamos com os protestos hoje porque queremos ter certeza que as nossas preocupações são ouvidas", disse esta terça-feira (02.07) à o advogado Hussein Khalid, responsável pelo grupo de defesa dos direitos humanos Haki Africa, com sede no Quénia. "Estamos a juntar-nos aos nossos companheiros que foram mortos e a exigir justiça para eles", acrescentou.
Na capital, Nairobi, a polícia disparou gás lacrimogéneo contra os manifestantes, depois de estes terem ateado fogo na estrada principal que atravessa o centro da cidade e de terem atirado pedras à polícia na zona comercial central.
Muitas pessoas evitaram o centro da cidade, e as embaixadas de vários países, incluindo os EUA, a Ucrânia e a Polónia, avisaram os seus cidadãos para evitar locais com muita gente. A maioria das lojas da cidade esteve fechada e muitas puseram guardas em frente às portas.
A correspondente da DW Sella Oneko, disse ter visto "pequenos grupos de manifestantes a serem perseguidos pela polícia", com os agentes a dispararem esporadicamente gás lacrimogéneo e a efetuarem detenções.
Os protestos voltaram a acontecer apesar de o Presidente William Ruto ter cedido à pressão dos manifestantes e desistido da impopular Lei das Finanças na semana passada.
Estima-se que mais de 30 de pessoas morreram nos protestos da semana passada, vítimas da ação policial contra os manifestantes, segundo grupos defesa dos direitos humanoss, e mais de 300 ficaram feridas.
William Ruto diz-se aberto ao diálogo
Durante uma entrevista à televisão queniana, o Presidente William Ruto lamentou as mortes e negou ser responsável pela atuação da polícia, tendo afirmado que "não tinha sangue nas mãos". Ruto garantiu uma investigação para esclarecer o terá acontecido e prometeu a responsabilização de qualquer polícia "que tenha agido fora da lei".
Durante os protestos vários jovens exigiam a demissão do Presidente. Mas Ruto mostra-se aberto a conversar e ouvir mais os jovens.
"Os jovens não querem mais conversas. Sentem que têm sido ignorados. E notam que os políticos têm esbanjado quando muitas pessoa sofrem", diz a ativista Judy Achieng, da organização Saisa Place.
Acusa o governo queniano de pretender silenciar os jovens. "Não queremos ser censurados. Querem diálogo e no dia seguinte matam os jovens nas ruas, raptam as pessoas que criticam os novos impostos e a crise no país", critica.
Jovens desiludidos com o Presidente
Os últimos acontecimentos no Quénia enfraqueceram a imagem do Presidente William Ruto, constata o correspondente da DW em Nairobi, Andrew Wasike.
"Neste caso, muitas pessoas morreram e o Presidente esperou quase duas semanas para agir, então, os jovens não confiam mais nele", explica.
Wasike diz que muitos quenianos esperavam do Presidente um pouco mais de sensibilidade: "As pessoas esperavam que aceitasse que há sequestros. Que aceitasse que estava errado, nisso e naquilo, ao invés de autodefender-se."
William Ruto reconhece a legitimidade das manifestações dos jovens. Mas acusa gangues de criminosos de se aproveitarem das manifestações para saquear instituições públicas e privadas.