Quinto mandato de Bouteflika na Argélia?
30 de outubro de 2018Abdelaziz Bouteflika vai concorrer a mais um mandato, anunciou domingo (28.19) o líder do partido no poder, a Frente de Libertação Nacional (FLN), Djamel Ould Abbes. Até agora, o chefe de Estado ainda não fez qualquer comentário sobre a nova candidatura. Se for reeleito, Bouteflika, de 81 anos, na presidência desde 1999, assumirá o seu quinto mandato em abril de 2019.
Mas o Presidente não terá tido grande influência na decisão, diz o politólogo Mohamed Hennad, da Universidade de Argel, que acredita que terão sido pessoas próximas do chefe de Estado a fazê-lo.
"O próprio Bouteflika ainda não comentou a questão", lembra também o cientista político Rachid Ouaissa, da Universidade de Marburg, na Alemanha. "A sua candidatura ainda não está confirmada. Nas últimas eleições, ele concorreu como independente, com o apoio de cinco partidos", recorda ainda o especialista.
"Bouteflika está aqui para ficar!"
Depois de vários enfartes, a saúde do Presidente agravou-se e Bouteflika raramente aparece em público, nem faz comentários. As poucas fotos publicadas nos últimos tempos mostram um homem gravemente doente, cuja capacidade de exercer o cargo levanta uma série de interrogações.
Mas esse não parece ser um motivo para se demitir. "A Constituição atual permite-lhe até concorrer novamente em 2024", lembra o politólogo Mohamed Hennad. "A lógica do atual sistema é o de um sultão - o que faz de Bouteflika Presidente para toda a vida", explica.
Bouteflika está no poder desde a independência da Argélia, em 1962. Naquele ano, assumiu a pasta da Juventude, Desporto e Turismo. Um ano depois, passa a ser ministro dos Negócios Estrangeiros, cargo que ocupou até 1979. Tornou-se chefe de Estado em 1999.
"Bouteflika está aqui para ficar! Tão simples quanto isso!", frisa Mohamed Hennad em entrevista à DW. Segundo o especialista, mais um mandato de Bouteflika só irá aprofundar os problemas do país, não só em termos políticos, mas sobretudo social e economicamente. "Os jovens vão perder ainda mais a fé no país", prevê.
Estagnação económica
Na verdade, as perspectivas não são animadoras. A dívida nacional representa um terço do Produto Interno Bruto (PIB) e a taxa de desemprego está nos 10,1% - e entre os jovens até 24 anos, o desemprego atinge os 24%, de acordo com números da agência alemã de desenvolvimento económico "Germany Trade and Invest". No "Índice de Competitividade Global" de 2017/18, a Argélia ocupa a posição 86 num ranking de 137 lugares.
É nesta situação que o país continuará a ser governado por Abdelaziz Bouteflika. E os beneficiários do quinto mandato do Presidente seriam aqueles que realmente governam o país, afirma o cientista político Rachid Ouaissa.
"A Argélia não é governada por uma única pessoa. Há vários grupos que controlam o Estado - pessoas das fileiras das Forças Armadas e também do setor económico, além de outras que vêm do jornalismo ou que representam certos interesses", explica o analista.
Mas aqueles que decidem realmente mantêm-se nos bastidores, diz Ouaissa: "Essas pessoas confiam em Bouteflika, já que um Presidente que não está em condições de governar serve muito bem os seus interesses."
Oposição sem ambições
A sociedade civil está sob forte pressão política. O poder está principalmente nas mãos dos militares, segundo um estudo do instituto independente de pesquisa "Carnegie Middle East Center" divulgado em maio deste ano. "Receio que outro mandato de Bouteflika possa levar a uma guerra civil. Os argelinos estão cansados do estado atual em que o país se encontra", observa.Rachid Ouaissa.
Críticos e opositores são frequentemente alvo de ameaças de prisão. Por outro lado, o sistema também atrai os seus representantes com meios financeiros. Em 2008, pro exemplo, os salários dos parlamentares foram aumentados de 1.500 para 2400 dólares - um valor 14 vezes superior ao salário mínimo nacional. E nesta situação, o mais provável é ter uma oposição pouco ambiciosa, revela o estudo do Centro Carnegie.
Uma exceção é o movimento "Mouwatana" (que significa cidadania), que se opõe ao quinto mandato de Bouteflika e que procura, ao mesmo tempo, "ressuscitar" os argelinos politicamente passivos.
Os argelinos já não podem confiar na Europa, diz o politólogo Mohamed Henad. "A Europa não pode fazer o trabalho por nós. E se o desempenho do governo é mau, cabe-nos a nós melhorá-lo. Os europeus dizem que não podem ser mais argelinos do que os próprios argelinos - e têm toda a razão!", conclui.