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Quão grave é a situação financeira na Sonangol?

7 de dezembro de 2016

Economista Carlos Rosado de Carvalho diz em entrevista à DW África que não são conhecidos detalhes sobre a situação na petrolífera angolana. Defende, por isso, a divulgação de estudos sobre a Sonangol.

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Foto: DW/N. Sul d'Angola

A presidente da petrolífera angolana, Isabel dos Santos, disse, no início do mês, que seriam necessários quase 1.500 milhões de euros para fazer pagamentos até ao final do ano. Aos jornalistas, disse ainda que era preciso implementar "de imediato um programa de reestruturação financeira do grupo para conseguir garantir os compromissos financeiros."
A situação "é bastante mais grave do que o cenário inicialmente anunciado", disse Isabel dos Santos numa conferência de imprensa. O problema é que o público não conhece detalhes sobre a situação financeira na petrolífera, segundo o economista Carlos Rosado de Carvalho - para isso, seria necessário divulgar estudos, diz em entrevista à DW África.

Carlos Rosado de Carvalho
Carlos Rosado de Carvalho: "Tudo isto tem que ser auditado"Foto: DW/J.Beck

DW África: A Sonangol disse, no início de dezembro, que precisava de quase 1.500 milhões de euros até ao final do mês para fazer pagamentos até ao final do ano. Onde é que se vai buscar esse dinheiro?

Carlos Rosado de Carvalho (RC): Eu não sei, não conheço a situação, mas em última análise o acionista da Sonangol é o Estado. Portanto, o Estado angolano terá de ajudar eventualmente a Sonangol. Mas, naturalmente, a empresa precisa primeiro de esgotar os seus próprios meios, que passam pelo financiamento. E sabe-se que a empresa, do ponto de vista de financiamento, também não tem estado a cumprir com os credores - os rácios que os credores exigem ou exigiram à Sonangol para lhes emprestar o dinheiro não estão a ser respeitados

DW África: Há risco de falência?

RC: Não me parece que haja. Estamos aqui a falar de uma empresa pública petrolífera e, se o acionista é o Estado, o Estado terá que responder. Aliás, seria muito mau para a própria imagem de Angola que a sua petrolífera abrisse falência. Não me parece que seja este o cenário.

DW África: O preço do barril de petróleo tem aumento este mês. Isso poderá ajudar às contas da Sonangol...

07.12.16 Entrevista Carlos Rosado de Carvalho - MP3-Mono

 

RC: A subida ajuda as contas da Sonangol e também ajuda as contas do Estado. A Sonangol vive do petróleo e, se o petróleo está mais caro, naturalmente que o 'share' da Sonangol nas receitas petrolíferas aumenta. Por outro lado, o acionista Estado naturalmente beneficia com o aumento das receitas do petróleo. Portanto, é um cenário interessante. De resto, o Orçamento Geral do Estado (OGE) foi elaborado [prevendo um] preço de 45 dólares o barril e o petróleo tem estado acima dos 50 dólares. Mas isso vale o que vale. Como sabemos, o preço tem-se apresentado muito volátil nas últimas semanas.

DW África: A gerência de Isabel dos Santos tem estado, de facto, a 'arrumar a casa', como pretendia?

RC: Não sei. Tudo isto tem que ser auditado. Há muita espuma e temos que a deixar assentar para sabermos. Tem havido conferências de imprensa, mas o que queremos são documentos. Queremos relatórios para termos uma ideia concreta do que se passa. Temos que ter um relatório sobre o diagnóstico que foi feito à Sonangol e, agora, esse diagnóstico terá eventualmente que ser atualizado - porque quando dizem que a situação está pior do que o que estava, mas não se conhece a situação anterior é muito difícil [avaliar].

DW África: Será que uma das áreas onde apostar é a refinação do petróleo? Isto porque, segundo a Sonangol, a produção nacional de produtos refinados ronda neste momento os 20%. Há aqui potencial a explorar?

RC: Não sou especialista no setor, mas interrogo-me como é que, ao fim desses anos todos, Angola não tem uma refinaria. Há, no entanto, quem entenda que Angola nem sequer devia ter uma. A verdade é a seguinte: Tudo bem, suspenderam as obras - mas agora o Orçamento Geral do Estado prevê verbas para a refinaria da Sonangol. São essas coisas que devem ser esclarecidas. Para além disso, é preciso que a Sonangol divulgue informações, que seja mais transparente. Não chega o Conselho de Administração dar conferências de imprensa. Precisamos de estudos para fazermos a análise sobre a verdadeira situação da Sonangol.

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