Quénia suspende envio de agentes policiais para o Haiti
13 de março de 2024O Haiti prepara-se para um conselho presidencial de transição, após a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry, mas permanecem dúvidas sobre a melhoria da situação no país, devastado pela violência de gangues. Um sinal de que a situação continua longe de estar estabilizada foi a decisão do Quénia, que suspendeu na terça-feira (12.03) o planeado envio de agentes policiais para o Haiti, no âmbito de uma missão internacional apoiada pela ONU.
Em reação, Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, minimizou o anúncio de Nairobi, afirmando acreditar que não será necessário o adiamento do envio da missão: "É natural que o Quénia queira saber que existe um Governo que os pode acolher e que lhes pode pedir para enviar uma missão. É um passo apropriado numa altura em que se aguarda a nomeação de um conselho de transição presidencial, que nomeará um novo governo. Pensamos que este conselho deverá ser formado num futuro muito próximo, o que abrirá caminho para que esta missão prossiga".
Quénia pretendia ajudar o Haiti a realizar eleições
Nas últimas semanas, confrontos entre a polícia e gangues armados provocaram uma onda de violência que levou a uma crise política e social no Haiti – o que levou o Governo queniano a anunciar o envio de mil agentes para o país, para apoiar a polícia local na criação das condições de segurança necessárias para a realização de eleições livres e justas.
No entanto, a decisão gerou alguma controvérsia entre os quenianos. Muitos cidadãos dizem discordar do envio destes agentes para o Haiti por não estarem asseguradas as condições de segurança necessárias. A estes, o ministro do Interior, Kithure Kindiki respodeu: "O Quénia é a nação que lidera a missão, mas há muitos outros países que se comprometeram a contribuir com tropas, e isto decorre do mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Por isso, faz parte das nossas obrigações internacionais."
Analistas: Demissão do primeiro-ministro Ariel Henry complicou situação
Em entrevista à DW, o analista político Haruun Isaack diz também que a demissão do primeiro-ministro do Haiti tornou a situação ainda mais complexa: "Ainda ontem, os Estados Unidos defendiam que o Quénia devia acelerar o envio da missão policial que supostamente lidera.
"Que hipóteses existem para a polícia queniana ir intervir e apoiar o Governo do Haiti, se é que existe governo no Haiti, se o Presidente foi morto e o primeiro-ministro se demitiu? Quem é o governo agora?" questiona Isaack.
A demissão de Ariel Henry foi exigida pelos gangues, que controlam cerca de 80% da capital Porto Príncipe, como moeda de troca para pôr fim a esta onda de violência que, até à data, já desalojou mais de 15 mil pessoas. Sem Presidente nem parlamento, o Haiti não tem eleições desde 2016. A violência no país aumentou quando a 28 de fevereiro se soube que Henry, que deveria ter deixado o cargo no início de fevereiro, se tinha comprometido a realizar eleições apenas em 2025.