Rap sobre Angola, as eleições e alternância
17 de fevereiro de 2017Cerca de trinta rappers do munícipio de Cacuaco, na província de Luanda, criaram em 2012 o projeto "Não vota". Entre os artistas estão Hitler Tchiconde e José Gomes Hata, dois dos 15+2 ativistas que foram acusados em 2015 de atos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores.
Na altura, nas vésperas das eleições de agosto de 2012, as músicas do disco apelavam aos eleitores angolanos para não aderirem às eleições, a fim de evitar uma alegada fraude.
"Já se previa uma fraude excessiva e usámos a música rap como forma de protesto", conta o rapper Cheik Hammed Hata. "O projeto surge com a 'Sociedade Aberta', entre 2011 e 2012."
O grupo produziu apenas 500 cópias e o disco esgotou. Mas as músicas ainda podem ser encontradas nas plataformas digitais.
O grupo prepara-se agora para lançar o segundo volume do projeto, no ano em que Angola realiza novas eleições. Mas, desta vez, o apelo poderá ser diferente.
À procura de alternância
Hata diz que os programas eleitorais dos partidos da oposição e a criação de uma coligação eleitoral entre os opositores do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), poderão contribuir para uma mudança de abordagem.
"Se, por exemplo, os partidos da oposição aproveitarem este contexto fértil para produzirem alternância, avançando com uma coligação, acredito que podemos fazer o projeto com outra perspetiva. Mas tudo depende de contexto", afirma o rapper.
A forma como a população abraçará o apelo pouco importa aos artistas. Segundo o rapper EXM, o que importa é levar uma mensagem positiva à sociedade.
"No meio de dez pessoas, se uma abraçar a nossa causa é como se fosse mil", diz. "Por isso, não estamos preocupados se as pessoas vão ou não aceitar as nossas ideias. O importante é mostrar o que achamos positivo para esta sociedade. Se repararmos, a sociedade de hoje não é a mesma de ontem".