1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Regime angolano tem no seu DNA o elemento da violência.

António Rocha23 de dezembro de 2015

Segundo o ativista, o governo angolano continua a silenciar as vozes "incómodas" em Cabinda. "O regime insiste em utilizar a repressão, porque tem no seu DNA, na sua natureza genética, o elemento da violência", diz.

https://p.dw.com/p/1HSTl
Raul TatiFoto: DW/J. Carlos

Numa longa entrevista concedida à DW África, o ativista de Cabinda Raul Tati, fala da contínua tentativa do regime angolano de querer silenciar os ativistas no enclave, da situação do Dr. Arão Tempo que continua à espera de uma decisão do tribunal, do estado de saúde de Marcos Mavungo, condenado a seis anos de prisão efetiva, e da solidariedade que deveria ser "mais organizada" para apoiar a família Mavungo que enfrenta sérias dificuldades financeiras.

Começamos por perguntar a Raúl Tati se o recente julgamento dos ativistas em Luanda poderá ser algo catalizador e animar ainda mais os ativistas em Cabinda.

Sistema de colonização

Segundo o ativista Raul Tati, embora o regime seja o mesmo, o que se passa em Cabinda tem uma lógica própria "que é a lógica de ocupação e de um sistema de colonização", ou seja, a de combater todas as vozes dissidentes sobretudo aquelas que continuam a tentar manter presente a questão de Cabinda.

Raul Tati está ciente de que o regime quer fazer tudo por tudo para "destruir, abafar e aniquilar tudo aquilo que tem a ver com a resistência de Cabinda, sobretudo essas vozes que continuam hoje a fazer-se ouvir e silenciá-las como fizeram com a prisão de Marcos Mavungo".

Julgamento dos 15+2 em Luanda com repercussões em Cabinda?

Para Tati, o que está a acontecer atualmente em Angola com os jovens revolucionários de alguma maneira poderá ter repercussões em Cabinda porque "o regime é o mesmo e tenho dito sempre que esse regime tem no seu DNA, na sua natureza genética, o elemento da violência

Angola Cabinda
Largo Dr. Agostinho Neto na cidade de CabindaFoto: DW/N. Sul D'Angola

Raul Tati lembra que o que se vive hoje em Angola "foi sempre assim nos últimos 40 anos", mas que "o desanuviamento da situação com os jovens revolucionários em Luanda pode trazer também um certo desanuviamento em Cabinda, mas não é provado que assim aconteça. Há jovens revolucionários que dizem que querem fazer um golpe de Estado. Em Cabinda queremos outra coisa e para eles aqui se trata de uma rebelião, tanto assim que José Marcos Mavungo e Arão Tempo foram ambos acusados de crime de rebelião". Sobre o processo de Arão Tempo, o nosso entrevistado diz que "ainda está a correr os seus trâmites e que ainda não foi marcada a data para o julgamento.". Issotudo aconteceria, "mesmo sabendo que o processo já se encontra no tribunal e ninguém é informado sobre o que se passa".

Prisão de Anacleto Mbiquila

A este propósito, quisemos saber mais sobre a recente prisão de Anacleto Mbiquila, secretário do Dr. Arão Tempo, Bastonário dos Advogados de Luanda em Cabinda.

Esta foi mais uma tetativa para amordaçar o advogado de Cabinda, que é o Dr. Arão Tempo, disse o ativista para em seguida acrescentar que "daqui a pouco estamos a ver o escritório desse advogado a ser encerrado, precisamente devido às pressões de todos os lados. Esta última detenção do seu secretário tem muito a ver com a perseguição aberta feita contra o advogado".

Por outro lado, Raul Tati interroga-se "porque é que até agora não julgaram o Dr. Arão Tempo se a detenção foi feita no mesmo dia com Marcos Mavungo?".

Para o ativista Raúl Tati, José Marcos Mavungo, que foi condenado em setembro a uma pena de seis anos de prisão efetiva pela alegada prática de um crime de rebelião contra o Estado, está psiquicamente bem mas "ele próprio já confessou que não se sente muito bem porque tem tido alguns problemas cardíacos. Aliás esses problemas já tinham sido diagnosticados no mês seguinte à sua detenção. É um problema que carece de um tratamento especializtado que não pode ser na cadeia".Face a este quadro sobre a situação em Cabinda, o ativista Raul Tati acredita que o que considera ser “uma justiça restaurativa em Cabinda” só será possível quando os cabindas forem ouvidos e "quando os angolanos acharem que também somos pessoas que devem ser respeitadas, então nessa altura poderemos falar entre irmãos, mas se não for assim a justiça restaurativa nunca será possível".

Que perspetivas para as futuras gerações?

Angola Landgericht in Cabinda
Tribunal de CabindaFoto: DW/N. Sul d'Angola
Angola Arao Bula Tempo Aktivist in Cabinda
Advogado Arão Bula TempoFoto: DW/N. Sul de Angola

Perguntamos a Raul Tati como perspetiva Angola para as gerações vindouras. Tati responde: "Um grande político de Cabinda e que está atualmente em Luanda, uma vez disse-me que numa audiência com o Presidente da República ter-lhe-ía dito que se não conseguir resolver os problemas com essa geração atual seria muito mais difícil com a próxima geração, porque com as mais velhas há uma certa moderação e ponderação. Mas o radicalismo está a surgir pouco a pouco porque os jovens estão a crescer e a ver as coisas, já fazem a leitura da situação e já conseguem tirar as suas ilações. Portanto poderá ser muito mais difícil resolver a situação no futuro. Por isso temos dito que Angola ganharia muito se apostasse numa situação justa para Cabinda".

Mas enquanto isso, o povo de Cabinda vai continuar a defender, "custe o que custar", as suas ideias, deixou bem claro o ativista Raul Tati.

"Costuma-se dizer que quem sai derrotado é quem deixou de lutar e esse não é o nosso caso. Vamos levar a todos os cantos do mundo a nossa voz para dizer que temos uma causa a defender, a mesma causa que outros povos também defenderam para o seu direito à autodeterminação. Temos o direito de determinarmos o nosso próprio destino", destaca o nosso entrevistado.


Apelo à solidariedade com a família Mavungo

Já no fim da entrevista Raul Tati fala da solidariedade que deveria ser mais organizada para com a família de Marcos Mavungo, porque ela precisa urgentemente desse apoio.

"Com o termo do ano letivo a esposa de José Marcos Mavungo está preocupada com a matrícula dos filhos porque os que frequentavam os colégios vão ter que sair porque não consegue pagar as proprinas. E é esse o problema que se coloca neste momento, ou seja, a continuação dos estudos dos filhos de José Marcos Mavungo.

[No title]

Finalmente Tati lança o seguinte apelo: "Peço a todas as pessoas de boa vontade e que acompanham a situação desse e de outros ativistas para ajudarem a família Mavungo. Essa ajuda será muito bem vinda por mais pequena que seja".