RCA: François Bozizé vai concorrer às presidenciais
25 de julho de 2020Militantes do partido Kwa Na Kwa (KNK) de Bozizé estão reunidos em Bangui desde esta sexta-feira e o anúncio deste sábado era amplamente esperado.
"O congresso do partido acaba de me designar candidato do Kwa Na Kwa para a próxima eleição presidencial. Eu aceito solenemente a missão que me confiaram", disse o ex-Presidente num discurso que também foi transmitido em direto no Facebook.
Bozizé voltou do exílio no Uganda em dezembro do ano passado. O político veterano assumiu o poder após um golpe de 2003, antes de ser derrubado 10 anos depois por Michel Djotodia, chefe do grupo rebelde maioritariamente muçulmano Seleka, no país predominantemente cristão.
Desde então, a RCA assistiu a um derramamento de sangue, marcado por violentos conflitos intercomunitários. "Os muitos sofrimentos do povo da RCA, bem como o chamado dos ativistas, trouxeram-no de volta", disse o secretário-geral do KNK, Bertin Bea, referindo-se ao regresso de Bozizé.
Situação atual
A França interveio militarmente na sua antiga colónia de 2013 a 2016, com objetivo de expulsar os rebeldes do Seleka, encerrando a operação após a eleição de Faustin Archange Touadera.
Touadera governa atualmente com o apoio de uma grande operação de manutenção da paz da ONU, mas a maior parte do país é controlada por ex-rebeldes e milícias.
O Governo assinou um acordo de paz em fevereiro de 2019 com 14 grupos armados, que normalmente afirmam defender os interesses de comunidades ou religiões específicas.
Desde então, a violência recuou, mas ainda existem conflitos sangrentos, geralmente provocados pela luta por recursos. Os conflitos forçaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes do país a fugir de suas casas.
Intenções de Bozizé
Bozizé ainda está sob sanções das Nações Unidas devido ao seu papel na crise de 2013, durante a qual foi acusado de apoiar as milícias cristãs anti-Balaka.
Entretanto, no final de janeiro deste ano, François Bozizé disse que "nada" o impediria de concorrer às eleições presidenciais e que pediria à ONU que considerasse a possibilidade de suspender as sanções contra si.
É provável que Bozizé oponha-se ao atual Presidente Touadera, cuja candidatura ainda não foi anunciada oficialmente, mesmo que muitos observadores a considerem uma certeza.
Depois de confrontos recentes, especialistas da ONU alertaram em meados de julho que "a perspetiva de eleições deu aos grupos armados outro motivo para manter e aumentar o seu controlo territorial".