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RDC: Oposição revoltada com adiamento das eleições

Silja Fröhlich | Tainã Mansani
28 de dezembro de 2018

Opositores falam em "conspiração" e dizem não aceitar decisão da Comissão Eleitoral. Para analista, adiamento seria estratégia para influenciar resultados a favor do Governo. Manifestações continuam.

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Kongo Beni | Protest & Demonstration gegen Ausschlus von Wahl
Em Beni, centenas protestaram contra o adiamento do pleito, esta quinta-feira (27.12)Foto: Getty Images/AFP/A. Huguet

O medo de muitos congoleses tornou-se real. As eleições presidenciais na República Democrática do Congo (RDC), já adiadas em uma semana para o dia 30 de dezembro foram adiadas mais uma vez em três regiões do país, para março de 2019. Entretanto, a Comissão Eleitoral ainda planeja empossar o novo Presidente a 18 de janeiro. Com isso, os votos de eleitores que forem às urnas apenas em março seriam inválidos.

Um novo surto do vírus ébola em Beni e Butembo, na província de Kivu do Norte, e problemas de segurança em Yumbi, no oeste do país, foram os motivos alegados pela Comissão Eleitoral para adiar as eleições nestas três zonas. Algo particularmente problemático do ponto de vista dos observadores, pois Beni e Butembo são considerados bastiões da oposição.

DRC Präsident Joseph Kabila
O Presidente da RDC, Joseph KabilaFoto: Reuters/K. Katombe

Gesine Ames, a coordenadora da Rede Ecuménica da África Central, defende que o recente adiamento das eleições é mais uma estratégia do Governo para influenciar os resultados a seu favor.

"Não será fácil realizar eleições na província de Kivu do Norte, principalmente por causa da violência que eclodiu nas últimas semanas e do novo surto do vírus ébola. Entretano, Kivu do Norte é um dos redutos da oposição e uma região de muitos eleitores. Penso que essa é uma das razões pelas quais o pleito foi adiado nestes locais," avalia.

Em entrevista à DW, a coordenadora disse que "falta bom senso" do Governo congolês para realizar estas eleições num ambiente justo, transparente e livre. "Mais uma vez, estão a tentar truques para manipular as eleições até o momento em que o candidato do Governo, Emmanuel Ramazani Shadary, tenha a melhor chance de ganhar", afirma.

Decisão repudiada

Os protestos contra o recente adiamento das eleições em três regiões da RDC não demoraram a chegar. Em Goma, capital da província de Kivu do Norte, manifestantes ergueram barricadas nos distritos Majengo e Katimbo. A polícia disparou gás lacrimogêneo e prendeu pelo menos meia dúzia pessoas.

Nesta quinta-feira (27.12), centenas de manifestantes reuniram-se nos arredores de Beni, uma das três regiões afetadas pela recente decisão da Comissão Eleitoral. A polícia congolesa também recorreu a disparos de munições reais e gás lacrimogéneo para dispersar mais de cem pessoas que protestavam nesta zona, localizada no leste RDC.

Eleições na RDC, protestos - MP3-Stereo

Políticos da oposição em Beni disseram não aceitar a decisão da Comissão Eleitoral. Philémon Ndambi wa Ndambi, candidato parlamentar do Movimento para a Libertação do Congo (MLC), disse, em entrevista à DW, que "há uma conspiração contra Beni e Butembo para que a população não possa votar contra o Governo. Iremos às ruas e insistiremos nas eleições!".

"O ébola é uma realidade, mas não deve ser um obstáculo. Isso é apenas uma desculpa que não se deve usar. Precisamos de eleições", acrescentou.

Blaise Musubao, do Movimento Social para a Renovação (MSR), também rejeita a decisão da Comissão Eleitoral congolesa.

"Em Beni, as eleições terão lugar no dia 30 de dezembro de 2018 e ponto final", enfatiza.

Retaliação à União Europeia

Nesta quinta-feira (2712), a três dias das eleições presidenciais, legislativas e provinciais, Kinshasa expulsou o embaixador da União Europeia (UE) na RDC. O Governo da RDC deu à UE um prazo de 48 horas para retirar o seu representante naquele país africano, como retaliação pela manutenção das sanções europeias contra 14 personalidades congolesas.

As sanções contemplam o congelamento de possíveis bens e a proibição de atribuição de vistos a 14 membros do regime do Presidente Kabila, acusados de violações dos direitos humanos. Por sua vez, a União Europeia lamentou a decisão das autoridades da RDC de expulsar o embaixador em Kinshasa, considerando essa medida "totalmente injustificada"  a apenas três dias das eleições gerais.

Parte da oposição lançou um apelo para a realização de uma greve geral esta sexta-feira (28.12).

Tainã Mansani Jornalista multimédia
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