RDC: Reeleição de Tshisekedi considerada um "novo golpe"
2 de janeiro de 2024Os restantes 20 candidatos, incluindo Denis Mukwege, que ganhou um Prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho com mulheres vítimas de violência sexual em tempo de guerra, ficaram abaixo ou à volta de um por cento.
A partir do seu quartel-general de campanha eleitoral, na capital Kinshasa, diante do qual centenas de apoiantes se juntaram à chuva para celebrar a vitória, o Presidente do país, Félix Tshisekedi, agradeceu a confiança do povo expressa nas urnas no passado dia 20 de dezembro e prometeu: "Gostaria de vos garantir que este segundo mandato que acabam de me conceder será dedicado a mais ações para a materialização dos compromissos assumidos e para o florescimento destas iniciativas com a máxima de nunca trair o Congo."
O Tribunal Constitucional da República Democrática do Congo (RDC) deverá confirmar os resultados provisórios a 10 de janeiro. Tshisekedi, de 60 anos, chegou ao poder pela primeira vez em janeiro de 2019, após uma eleição disputada que muitos observadores disseram que ele tinha, de facto, perdido.
Tshisekedi anunciou os principais desafios para o segundo mandato de cinco anos: "Esta vitória é uma vitória para enfrentar os nossos desafios de interesse nacional, nomeadamente o desafio da segurança, o desafio do emprego, o desafio de interligar o nosso país, o desafio de modernizar a nossa administração, em suma, o desafio de acelerar a marcha do nosso país para alcançar e maximizar o seu maior potencial, sem esquecer os desafios globais para os quais a nossa voz é ouvida."
Desde o dia das eleições, alguns dos principais opositores de Tshisekedi, incluindo o antigo executivo do sector petrolífero Martin Fayulu, têm apelado à repetição do escrutínio e das eleições legislativas, acusando a CENI (Comissão Eleitoral Nacional Independente) de ter permitido que a votação se inclinasse a favor do Presidente.
Palmer Kabeya é o coordenador da coligação dos partidos da oposição: "Declaramos o seguinte: um, rejeitamos categoricamente as eleições fictícias organizadas pela CENI (Comissão Eleitoral Nacional Independente) de 20 a 26 de dezembro de 2023 e seus resultados em todos os níveis; dois, exigimos a organização de eleições reais por uma CENI efetivamente independente em uma data a ser acordada pelas partes anteriores."
O grupo de nove candidatos presidenciais e seis líderes de partidos políticos da oposição pediram ainda aos seus apoiantes que saíssem à rua para protestar após a divulgação dos resultados provisórios.
"Três, apelar ao povo congolês e a todas as forças ativas da nação para que se mantenham mobilizadas em todo o país para salvar a nossa democracia e a nossa nação em perigo, em conformidade com o artigo 64 da Constituição da República. E quatro, pedimos ao nosso povo que, logo que a fraude eleitoral seja proclamada esta noite, proteste maciçamente nas ruas", pediu.
E alguns militantes e simpatizantes dos partidos da oposição responderam ao apelo com protestos de rua, pendido destituição do presidente da comissão eleitoral, Denis Kadima.
"Kadima (Denis Kadima, presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independente) tem de se ir embora, já chega. Ele organizou eleições caóticas, já chega. Tem de se ir embora. Não o queremos. É um aventureiro que foi colocado à frente da Ceni (Comissão Eleitoral Nacional Independente). Ele tem de sair para que possamos organizar boas eleições", exige um cidadão.
Já outro afirma: "Estamos a manifestar-nos hoje porque o CENI de Kadima, em cumplicidade com Felix Tshisekedi, organizou eleições muito más, que nunca tiveram lugar antes. Exigimos a anulação destas eleições. Exigimos a demissão do Sr. Kadima e a sua prisão".
Apelos por novas eleições negados
O grupo composto por nove candidatos da oposição assinou a 31 de dezembro uma declaração em que rejeita o que considera ser uma eleição "fictícia" e apela a uma nova eleição. Entretanto, o Governo do Congo rejeitou a possibilidade de repetição do escrutínio. Também sublinhou que quaisquer disputas eleitorais devem ser apresentadas ao Tribunal Constitucional. Mas os líderes da oposição dizem que não têm confiança no tribunal ou no CENI, que, segundo eles, é subserviente ao Governo.
Mais de 40 milhões de pessoas, dos 100 milhões de habitantes, estavam registadas para eleger Presidente, bem como para deputados nacionais e regionais e conselheiros municipais.
Inicialmente previsto para 20 de dezembro, o escrutínio foi oficialmente prolongado por um dia para fazer face a problemas, e continuou durante dias em zonas remotas.
Uma missão de observação católico-protestante afirmou ter "documentado numerosos casos de irregularidades que possam afetar a integridade da votação". Cerca de 15 embaixadas apelaram à "contenção" no país, onde as tensões pós-eleitorais têm sido recorrentes.