Realizadores debatem o futuro do cinema africano
26 de setembro de 2024A cidade de Colónia, na Alemanha, acolhe esta semana um festival internacional de filmes africanos, o Afrika Film Festival, um evento que junta realizadores da antiga e nova gerações, para entre outros, discutir o futuro do cinema no continente.
À DW, organizadores e participantes do festival reconhecem que ainda há muito por fazer para que a indústria cinematográfica africana ganhe mais espaço no continente e no mundo.
Encontro de gerações
O festival em Colónia não é só uma montra para os 76 filmes em exibição. Serve também de palco para o reencontro de diferentes gerações da sétima arte em África.
Além dos filmes, há concertos, workshops e outros eventos sociais. Sebastian Fischer, diretor do festival em Colónia, diz que a iniciativa pretende uma maior inclusão de todos os que atuam no cinema.
"Para nós, é sempre importante ter aqui a velha e a nova gerações. É importante conectá-los para que talvez trabalhem juntos e aprendam uns com outros. Mas também trazer mulheres para este festival, é um dos nossos objetivos", disse.
Um outro olhar
Filmes históricos e atuais, longas e curta-metragens de 23 países estão a ser exibidos nesta 21ª edição do Festival de Cinema Africano, que decorre até ao próximo domingo, 29 de setembro.
Fischer diz que o evento traz para Alemanha uma "outra forma de olhar" para o continente africano.
Um dos convidados este ano é o realizador da Guiné-Bissau, Sana Na N'hada, que tem dois filmes seus a serem exibidos no festival: "Xime" e "Nome".
"Nome" é o filme mais recente de Sana Na N'hada e aborda a luta armada no país, em que Na N'hada participou ainda adolescente, trabalhando como socorrista nos centros de saúde. O cineasta explica que a obra cinematográfica tentou também questionar certos aspetos negativos, que presenciou em primeira pessoa, durante a luta contra a dominação colonial.
"O meu filme [Nome] conta a história como a família da minha condição participou na luta [armada de libertação da Guiné-Bissau] e o que nós iríamos fazer com a independência. A minha grande questão é porque é que o homem é tão mau, porque havia tanta maldade durante a guerra de libertação nacional", explica Sana Na N'hada.
Cinema africano "não está morto"
O realizador angolano Fradique também participa no festival em Colónia e reconhece que o cinema africano tem de lutar para ter ainda mais espaço, em comparação com o cinema de outros continentes.
"O cinema [africano] não está morto e há muito espaço para se contar muitas histórias ainda", começou por dizer, antes de dizer que é preciso mudanças: "É verdade que é um cinema que tem de lutar por muito espaço, porque nós não temos ainda uma política de incentivar, uma política de quotas para ver filmes de outros países africanos nas nossas salas de cinema", finalizou.
A indústria cinematográfica africana procura ganhar mais expressão no cenário global. Ezinne Ezepue, pesquisadora nigeriana na Escola Internacional de Cinema, em Colónia, vislumbra um futuro brilhante para a sétima arte no continente.
"Chegaremos lá, não sei por quanto tempo, por causa dos desafios relacionados com o treinamento, disponibilidade de meios. Mas também estamos a ter muitos profissionais da diáspora que estão a regressar ao continente", acredita.
Na 21ª edição do Festival de Cinema Africano participam mais de 30 cineastas e produtores. Além de filmes de realizadores lusófonos, são exibidas as obras cinematográficas de países como o Ruanda, Uganda e Egito.