Rebelião das FDLR no Congo Democrático está enfraquecida
24 de agosto de 2012Nos últimos 16 anos as FDLR (Forças Democráticas de Libertação do Ruanda) aterrorizaram a população, cometeram violações, roubaram e assassinaram no leste da República Democrática do Congo (RDC). Na floresta, esta milícia hutu criou um Estado dentro de outro Estado, uma forte rebelião armada e instalou um governo no exílio.
O seu objetivo era conquistar nomeadamente o Ruanda, com o derrube do governo tutsi do presidente Paul Kagame. Por outro lado, as FDLR estiveram sempre na origem de várias guerras e conflitos entre os países vizinhos Ruanda e República Democrática do Congo.
Foi somente em 2009 que os dois países conseguiram chegar a acordo quanto ao lançamento de operações militares conjuntas contra a milícia. Mas desde o surgimento do grupo armado M23, apoiado por Kigali, essas operações militares foram suspensas.
Enfraquece um, fortalece outro
O recém-formado M23 é um pequeno movimento de militares amotinados que atuam no norte e leste de Goma e que tem desestabilizado toda a região do Kivu. Este movimento foi constituído oficialmente a 23 de março por amotinados próximos do general irradiado das forças armadas congolesas, Bosco Ntaganda.
O Tribunal Penal Internacional, TPI, quer julgá-lo por crimes de guerra. Este grupo já conquistou uma boa parte do Norte-Kivu, ajudado, segundo a ONU, por Ruanda, uma informação que Kigali entretanto desmente.
E o M23 aproveitou-se da difícil situação por que passam as FDLR, motivada pela deserção das suas fileiras de muitos comandantes da rebelião para se afirmar como uma rebelião com força e poder na região.
Os rebeldes das FDLR, já foram no passado mais de 20 mil, afirma o seu porta-voz Laforge Fils Bazaye, que explica os objetivos da sua organização: "Proteger esses refugiados que enfrentavam a última fase de uma exterminação pelo exército ruandês, evidentemente com a cobertura dos congoleses"
Libertar o Ruanda do que consideram ser a criminosa ditadura de Paul Kagame, é outro dos objetivos do grupo. Em relação aos refugiados que pretendem proteger, Bazaye lembra que "continuam a ser escorraçados e violentados até hoje."
Lembramos que o Presidente das FDLR Ignace Murwanashyaka e o seu adjunto Ever Straton Musoni viviam como refugiados na Alemanha. Na verdade eles dirigiam e controlavam através de e-mails e via telefone a luta da sua organização. Em 2009, os dois homens foram presos e estão a ser julgados no sul da Alemanha desde 2011.
FDLR ainda respira?
Isso terá enfraquecido moralmente as FDLR, afirmam os observadores, algo que é contudo negado pelo porta-voz da milícia, Laforge Bazaye: "Isso aconteceu por razões políticas e por isso não queremos julgar esta decisão."
Bazaye diz que pensava-se que, com a prisão dos dois líderes, a cabeça das FDLR seria cortada e o grupo ficaria desencorajado. Mas o porta-voz garante: "Não foi o caso. Não seguimos um indivíduo mas sim um ideal. Podem prender mais pessoas mas outras ainda irão continuar com a luta."
Entretanto, nos últimos meses, vários elementos da rebelião fugiram porque a situação mudou muito no leste do Congo. Por outro lado, também muitos oficiais abandonaram as fileiras do exército congolês. Desses oficiais uma grande parte vinha do seio dos ex-rebeldes da CNDP, o Congresso Nacional para a Defesa do Povo, integrados no exército em 2009.
Desde então, o exército do Congo focalizou as suas ações contra esta nova rebelião, conhecida por M23. Segundo várias fontes diplomáticas e investigações realizadas pela ONU, o M23 é apoiado pelo Ruanda. Isto fez com que muitos países europeus e os Estados Unidos da América tenham decidido suspender a ajuda ao desenvolvimento ao Ruanda ou até mesmo cessar com os apoios.
Autora: Simone Schlindwein / António Rocha
Edição: Nádia Issufo / Renate Krieger