Lixo gera renda
26 de outubro de 2012Nas cercanias de Kibera, a maior favela de Nairobi, grande quantidade de lixo é empilhada, sobretudo plástico. São garrafas de shampoo, sacolas e latas velhas. Aproximadamente 3 mil toneladas de lixo plástico são jogadas fora todos os dias na capital queniana. Apenas parte destes resíduos chega aos aterros nos arredores da cidade. Muito é jogado em valas ao lado das ruas ou amontoado nas proximidades dos bairros pobres.
"Lidar com o lixo é um grande problema neste país. Se alguém atravessa a cidade pode ver resíduos em todas as partes. Isto acontece porque nós não temos qualquer aterro sanitário razoável", conforme explica o responsável pelo meio ambiente, Ayub Macharia.
O projeto Ecopost, do empresário Charles Kalama, está ativo há dois anos. O objetivo é o reaproveitamento do plástico.
"Nós reciclamos todo o mês algo em torno de 40 toneladas de plástico. É tudo lixo que foi largado em algum coletor de esgoto ou mesmo na rua", afirma Kalama. O plástico é primeiramente triturado em uma pequena fábrica, derretido e prensado em blocos compridos. O próximo passo é um trabalho manual exaustivo. Os blocos vão são trabalhados com grandes martelos para a produção de estacas, que servem como material alternativo na construção cercas, usualmente feitas de madeira.
Uma máquina antiga e um desejo
O empresário gostaria muito de reciclar ainda mais, mas ele precisa do equipamento necessário pra isto. Katama diz que a sua empresa recebeu máquinas usadas. "O nosso maior problema é que nós produzimos de forma restrita. Nós recebemos a prensa usada. Trata-se de uma máquina antiga alemã, que opera desde 1973."
Apesar das dificuldades técnicas, a Ecopost emprega várias pessoas. São 25 homens e mulheres na fábrica. Cerca de 200 ajudam a coletar os restos plásticos. Os postos de trabalho geralmente são oferecidos a moradores das favelas, que não teriam outra fonte financeira.
Lei de reciclagem
Na Alemanha, a produção de resíduos eletrônicos é gigantesca. Milhares de computadores, aspiradores de pó, aquecedores de ar, torradeiras e geladeiras são jogados fora. Na União Europeia, por lei, todos os aparelhos elétricos devem ser reciclados. Quem se encarrega dos custos são os produtores de novos aparelhos. Quem quer comprar equipamentos, financia, assim, ao mesmo tempo, os aparelhos antigos e os reciclados.
Um exemplo de local onde este reaproveitamento é feito é a unidade de reciclagem na cidade de Lünen, no Oeste da Alemanha. No terreno da usina de reciclagem Remondis, fica uma montanha de lixo eletrônico da altura de uma casa. Lá podem ser encotnrados mixers, escovas de dente elétricas, cafeteira, prato de forno elétrico, abajures e motores. Todo o material está amontoado.
Todos os aparelhos são compostos por centenas de partes separadas. E todas as partes são compostas por diferentes materiais, como ferro, cobre, aço, alumínio, bronze, lata e mais uma quantidade de diferentes plásticos. Também há componentes venenosos nesta sucata. O material pode ser reciclado se estas substâncias forem separadas uma das outras.
O Processo
Uma esteira leva todos os aparelhos para uma sala. Quatro operários ficam sobre a correia transportadora e vão de encontro ao equipamento, retirando todo o material da esteira, separando pedaços e partes específicas em uma grande caixa de metal.
"Existem diferentes caixas para diferentes frações e os trabalhadores são orientados a separar peças específicas. Eles retiram as substâncias tóxicas”, explica o diretor da Remondis, Hans-Jürgen Sommer.
Ele diz que “algo em torno de 30 por cento do material será separado na empresa, o que já pode ser considerada uma performance respeitável, acima da nossa meta.” Após uma pré-seleção do material, sempre ficam todos os tipos de resíduos.
Por isso o lixo eletrônico vai em seguida para uma máquina que rompe com tudo violentamente. Durante o processo, começam a surgir pilhas, condensadores e outros resíduos tóxicos.
Separação
Os trabalhadores separam este material em um segundo momento, de forma manual. O que sobra é material tóxico e vai para um granulador. Um imenso fragmentador que deixa tudo em pequenos pedaços. "Neste processo mecânico, materiais unidos são separados uns dos outros – por exemplo, material aparafusado ou colado, plástico é separado de metal, etc. ... Mas eles continuam tendo, é claro, todos os resíduos na esteira”, diz Sommer.
Isto acontece utilizando diferentes equipamentos de seleção. Por exemplo, usa-se um tamiz rotatório e um equipamento magnético para separar plástico de metal. Pode-se fazer a separação também com a ajuda de um separador infra-vermelho e um aparelho medidor de densidade, que destaca somente frações de metal, separando alumínio de cobre e ferro de metais não ferrosos.
O separador infra-vermelho molda o núcleo do aparelho. Um medidor a laser reconhece, por meio da intensidade infra-vermelha, onde permanecem pequenos fragmentos. Lança nele um vento, o impulsionando diretamente a um contendor de coleta.
Somer diz que é um processo tão rápido que não é perceptível aos olhos humanos. "Aproximadamente 90% vai de volta para a reciclagem", garante.
O papel do Estado
Em outra área da empresa, esteiras levam pedaços de metal separados e limpos para uma caixa. Cobre, ferro, diferentes ligas de alumínio, plásticos e metais não ferrosos. De lá, este material reciclável volta direto para a indústria para ser trabalhado. Através da venda deste material, a empresa de reciclagem faz a sua receita.
O presidente do Departamento Federal do Meio Ambiente da Alemanha (Umweltbundesamt), Jochen Flasbarth, acha que o retorno obrigatório dos aparelhos elétricos e eletrônicos é o melhor método para evitar depósitos de lixo ilegais.
"Se isto não fosse regulamentado pelo Estado, o lixo ficaria depositado como antes e seria deitado fora em algum lugar no ambiente, como nós sabemos que acontece em alguns países que não tem um controle estatal para reciclagem de resíduos e de lixo. Para isso nós, sim, precisamos do Estado e precisamos dele também quando o assunto é evitar que este lixo pare em algum outro país", afirma Flasbarth. Em muitos países emergentes, a reciclagem dos aparelhos elétricos continua causando danos à saúde e muitas vezes usa mão de obra infantil.
Autores: Antje Diekhans/Fabian Schmidt
Edição: António Rocha/Marcio Pessôa