Reformas em Angola? "Tudo indica que há um clube de amigos"
11 de janeiro de 2018As exonerações realizadas pelo Presidente de Angola têm sido aplaudidas em vários setores da sociedade angolana. Mas as soluções encontradas por João Lourenço não agradam a alguns analistas, que receiam que não se concretizem as reformas prometidas pelo chefe de Estado angolano.
Jorge Eurico, jornalista, lamenta a falta de sangue fresco nas nomeações do Presidente angolano. "Afinal, o que mudou? O antigo chefe de Estado exonerava de um cargo para colocar noutro, e, com João Lourenço, vemos que está a acontecer a mesma coisa", diz.
Em substituição de José Filomeno dos Santos, afastado da presidência do Fundo Soberano de Angola esta quarta-feira (10.01), o chefe de Estado angolano nomeou o antigo ministro das Finanças Carlos Alberto Lopes, que ocupava até aqui o cargo de Secretário para os Assuntos Sociais do Presidente da República.
"Tudo indica que há aqui um clube de amigos, pois tudo gira em torno das mesmas pessoas", comenta o jornalista.
Lopes será coadjuvado por Laura Alcântara Monteiro, Miguel Damião Gago, Pedro Sebastião Teta e Valentina de Sousa Matias Filipe, que atuarão como administradores executivos.
Também nesta quarta-feira, dois antigos primeiros-ministros foram nomeados para o cargo de administradores não executivos da Sonangol, a petrolifera estatal: Lopo do Nascimento e Marcolino Moco, este último um forte contestatário do chefe de Estado anterior, José Eduardo do Santos.
Reforma na continuidade?
O economista Precioso Domingos concorda que faltam quadros mais jovens. O Presidente angolano está a "acertar nas exonerações", mas parece "falhar nas nomeações", afirma.
As equipas que têm sido nomeadas revelam sinais de continuidade: ao "nomear doentes já em fase terminal, vê-se mesmo uma dança de cadeiras", refere o investigador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola. "Isso vem demonstrar que os cargos públicos em Angola são um lugar de sobrevivência."
Apuramento de responsabilidades
Precioso Domingos espera, ainda assim, que haja mudanças na administração do Fundo Soberano, que gere ativos do Estado angolano de cerca de 5 mil milhões de dólares.
"Havia algum esforço do antigo Presidente do Conselho de Administração em apresentar lucros", refere o economista. Mas "acho que o Fundo Soberano fazia investimentos como se estes fossem fundos não transparentes, que resultassem de uma prática ilícita. Eu preferiria que o Fundo Soberano comprasse ativos em empresas credíveis, em mercados credíveis como os Estados Unidos e outros; que comprasse dívida pública ou ações em grandes empresas tecnológicas. Mas não, estava a investir na agricultura."
Recentemente, a imprensa internacional divulgou um esquema de desvio financeiro no Fundo Soberano de Angola, e a gestão de Filomeno dos Santos estava sob investigação, por decisão do Presidente João Lourenço.
O jornalista Jorge Eurico pede que se apurem responsabilidades. "Não basta ficar apenas pelas exonerações. O povo espera mais do que isso."