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Refugiados do Mali no Burkina Faso sonham com o regresso

Katrin Gänsler23 de agosto de 2016

São mais de 32 mil os malianos que fugiram para o país vizinho. Encontraram a paz, mas em condições muito duras. Faltam alimentos para as famílias e a perspetiva de um regresso é cada vez mais longínqua.

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Uma menina refugiada em Djibo, no Burkina FasoFoto: DW/K. Gänsler

O dia a dia no campo de refugiados de Mentao corre lento. Dois jovens homens jogam, Scrabble, um jogo de palavras e assim matam as horas. São dois entre os 12 mil refugiados que vivem no campo.

Muitos deles chegaram ao Burkina Faso já em 2012. Nesse ano a juntar aos seus problemas internos e às crises cíclicas provocadas pela seca, os vizinhos do Mali viram-se a braços com uma crise de refugiados e com o nascimento de um novo refúgio para a jihad internacional no seu próprio território, para além de dois grupos tuaregues, o Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA, nacionalista e laico) e o Ansar Dine (islamista), por trás da captura do Norte do Mali esteve o Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental, ligado ao ramo magrebino na Al-Qaeda, o AQMI.

A única saída? Fugir.

"Aqui há paz"

Burkina Faso Flüchtlinge Muphath Ag Mohamed
Muphath Ag Mohamed, refugiado no Burkina FasoFoto: DW/K.Gänsler

Muphtah Ag Mohamed é oriundo dos arredores de Tombuktu. Como a situação em Fevereiro de 2012 se tornou muito perigosa, ele partiu com sua família para o outro lado da fronteira. Agora, o antigo vendedor de tecidos, passa as tardes a ver os jovens a jogar.

Na verdade, este homem de 62 anos queria ficar pouco tempo no Burkina Faso. “Em 2013, disse todos os dias: 'amanhã vamos voltar'. Isso nunca foi possível, então tivemos que ficar. Viemos para o Burkina Faso, porque buscámos a paz. Felizmente aqui estamos em paz. Do outro lado da fronteira ainda não existe".

As histórias de horror vindas do Mali não cessam. Trinta mortos em Kidal ou dez numa aldeia perto de Timbuktu. Notícias que raramente chegam à Europa. Os refugiados, no entanto, estão bem informados, também sobre as más condições no campo de Mentao.

Na entrada do campo são visíveis numerosos quadros e placas com nomes de ONG, algumas delas já deixaram entretanto o campo. As queixas são muitas: os alimentos já não são suficientes para todas as famílias. Ao microfone ninguém se atreve no entanto a dizê-lo.

ACNUR reconhece as dificuldades

Burkina Faso Flüchtlinge Belco und Hourèta Tamboura
Refugiados malianos no norte do Burkina FasoFoto: DW/K.Gänsler

Em Bamaco, Gogo Hukportie conhece bem as dificuldades. “A crise no Mali tornou-se numa crise duradoura. Numa situação de emergência aguda os recursos e parceiros estão lá imediatamente. As coisas acontecem. Mas, quanto mais tempo uma crise dura, mais depressa se lhe deixa de prestar atenção”, diz a a representante local da agência da ONU para os refugiados, ACNUR.

No mercado da capital de província Djibo ainda há alimentos suficientes para comprar, mas reina a apreensão. Belco Tamboura, de 78 anos viveu quase toda a sua vida em Djibo. “Hoje, tudo aqui é muito caro. Desde 1973, temos cada vez menos alimentos. Aqui quase todas as vacas morreram. Com os refugiados, a população está a crescer mais e mais. Tudo é mais caro devido aos refugiados".

A insegurança no Mali tem reflexos no Burkina Faso. Em janeiro a AQMI, um braço da Al-Qaeda, sequestrou em Djibo um casal australiano. Do homem não se sabe até hoje rigorosamente nada. Uma melhoria não estará para breve segundo os analistas de segurança.

Em Mentao, Muphtah Ag Mohamed deve continuar a ser paciente. Ainda não desistiu de um regresso, mas está cansado e abatido.

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